Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
3 min — há 11 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 9:25:51 PM
Ricardinho está em risco de vida. Pode morrer se não receber atendimento médico adequado, afirma a grande manchete de um matutino paulista.
Lendo esses dizeres, pensei que se tratasse talvez de algum jogador de futebol, em campeonato internacional. Mas não: é um dos cães da linhagem desenvolvida por um em si benemérito instituto de pesquisas médicas.
“O beagle Ricardinho, de sete anos, um dos patriarcas da linhagem de cães desenvolvida pelo Instituto Royal, pode morrer se não receber atendimento médico adequado, afirmam os cientistas da entidade. O animal tem insuficiência renal e descalcificação óssea decorrente da doença. Além disso, tem uma prótese no maxilar – o que deixa seus dentes caninos superiores colados aos inferiores”. (“Folha de S. Paulo”, 25-10-13).
Coitado! Psicologicamente, ouve-se de todas partes a sirene das ambulâncias!
Na verdade, este cão é um serviçal do homem. Faz parte de um Instituto de Pesquisa Médica. Nada contra que se tenha cuidado com ele, desde que não seja pelos motivos que abaixo constam. Reconheço que ele não é um vira-lata qualquer.
“Os animais não existem para eles mesmos mas para servir”, já reconhecia o grego Epicteto. Isto eleva seu nível como criatura de Deus. Narra, no mesmo periódico paulista, João Pereira Coutinho que o filósofo Roger Scruton escreveu um livro a respeito (Animal Rights and Wrongs, editora Continuum, 224 págs.) que ajuda a explicar o tratamento dos cães como humanos, e defender esta conduta. “O fenômeno explica-se com o declínio da religião nas sociedades ocidentais: quando os homens acreditavam que eram os seres superiores da criação, ninguém pensava nos ‘direitos’ ou na ‘sensibilidades’ dos bichos. Nós, e apenas nós, tínhamos sido criados à imagem e semelhança do Pai. Não havia como confundir um ser humano com um batráquio.” (“Folha de S. Paulo”, 22-10-13).
A que absurdos chegaremos com o declínio da religião? E a coerência como fica?
No Laboratório do prof. Zeng Kui na Carolina do Norte um rato, logo apelidado de Super-Rato, resistiu a uma bateria de injeções de células cancerosas, sem ficar com câncer. Metade de seus filhotes herdou a resistência ao câncer; eles estão espalhados pelos grandes laboratórios de pesquisa do câncer no mundo. “É fácil imaginar a extensão do desastre se o Super-Rato tivesse sido roubado por ativistas antes que pudesse ser multiplicado”. (“Veja”, 30-10-13).
Gostaria que um ecologista convicto, e favorável aos direitos dos animais, dissesse se concorda ou discorda do seguinte silogismo: Todo animal tem direitos; Ora, os insetos são animais; portanto, não se pode matar mosquitos, baratas, pulgas etc. Se discorda, onde fica sua coerência? Se concorda, como ficam os princípios — se é que os há — da proteção aos animais? Ou os insetos não são animais? Seriam vegetais ou minerais? Tudo se pode provar a partir de uma premissa errada. Ó ecologista, se sua casa tem baratas não vou lá…
Recentemente, a Anvisa decidiu analisar a legislação que trata do uso de cobaias, e a Câmara dos Deputados acelerou a votação de um projeto de lei que tipifica como crime todos os atos contra a vida, saúde ou integridade mental e física de cães e gatos.
Voltemos a Ricardinho. É claro que desejamos que sobreviva, mas colocamos este desejo em sua adequada hierarquia. E se morrer, enterre-se sem mais. Convém esclarecer a esta altura: nada temos contra que o leitor ou a leitora alimentem em sua residência um fiel Totó ou uma graciosa Mimi. É apenas uma questão de bom senso, e repúdio ao igualitarismo.
Tudo o que é exagerado é insignificante, dizia um pensador francês. É o caso dos “direitos” dos animais. Apenas uma observação: não é um exagero, mas um absurdo.
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