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Plinio Corrêa de Oliveira

Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Traição ao Evangelho

Por Revista Catolicismo

20 minhá 5 anos — Atualizado em: 9/27/2019, 11:51:46 PM


O Bispo Dom Athanasius Schneider afirma que, “ao reconhecerem direta ou indiretamente a igualdade de todas as religiões — através da divulgação e implementação do documento de Abu Dhabi (de 4 de fevereiro de 2019) —, os homens na Igreja hoje não apenas traem Jesus Cristo como o único Salvador da humanidade e a necessidade de Sua Igreja para a salvação eterna, mas também cometem uma grande injustiça e pecam contra o amor ao próximo”

Fonte: Esta entrevista foi publicada originalmente na página LifeSiteNews e reproduzida, com expressa autorização do eminente entrevistado, na revista Catolicismo (Nº 826, edição de outubro/2019). A tradução é de nosso colaborador Hélio Dias Viana.

A decisão do Vaticano de implementar um documento afirmando que a “diversidade de religiões” é “desejada por Deus”, sem corrigir esta declaração, equivale a “promover a negligência do Primeiro Mandamento” e uma “traição ao Evangelho”, afirmou Dom Athanasius Schneider.

Em entrevista ao LifeSiteNews sobre uma iniciativa apoiada pelo Vaticano para promover o “Documento sobre Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum” [na foto abaixo, flagrante da assinatura de tal documento], o Bispo-auxiliar de Astana, no Cazaquistão, disse que “por mais nobres que possam ser os objetivos de ‘fraternidade humana’ e ‘paz mundial’, eles não podem ser promovidos à custa de relativizar a verdade da unicidade de Jesus Cristo e Sua Igreja”.

A divulgação desse documento com suas formulações incorretas “paralisará a missão ad gentes da Igreja” e “sufocará seu zelo ardente de evangelizar todos os homens”, disse Dom Schneider. E acrescentou: “As tentativas de paz estão fadadas ao fracasso se não forem propostas em nome de Jesus Cristo”.

Um “Comitê Superior”

O Vaticano anunciou na semana passada que havia sido estabelecido nos Emirados Árabes Unidos um “Comitê Superior” de várias religiões para implementar o “Documento sobre Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum”, assinado no dia 4 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e Ahmed el-Tayeb, grão-imã da Universidade egípcia al-Azhar, durante uma visita apostólica de três dias à Península Arábica.

Os membros da comissão são sete católicos e muçulmanos, incluindo o secretário pessoal do Papa Francisco, Pe. Yoannis Lahzi Gaid, e o presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, arcebispo Miguel Angel Ayuso Guixot [que se tornará cardeal no próximo consistório de 5 de outubro].

Em comunicado divulgado na segunda-feira, 26 de agosto, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse que o Papa Francisco “encoraja os esforços do Comitê para difundir o conhecimento do Documento; agradece aos Emirados Árabes Unidos pelo compromisso concreto em favor da fraternidade humana, e deseja que iniciativas semelhantes possam se multiplicar em todo o mundo”.

Abu Dhabi, 4 de fevereiro de 2019 – O Papa Francisco assina com Ahmed el-Tayeb, grão-imã da Universidade egípcia al-Azhar, o “Documento sobre Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum”, por ocasião de sua visita apostólica de três dias à Península Arábica.

Documento controvertido

O documento de Abu Dhabi causou controvérsia ao afirmar que “o pluralismo e as diversidades” de religião fazem parte do “desígnio divino”.

A passagem que suscita discussão afirma:

“A liberdade é um direito de toda a pessoa: cada um goza da liberdade de credo, de pensamento, de expressão e de ação. O pluralismo e as diversidades de religião, de cor, de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio divino com que Deus criou os seres humanos. Esta Sabedoria divina é a origem donde deriva o direito à liberdade de credo e à liberdade de ser diferente. Por isso, condena-se o fato de forçar as pessoas a aderir a uma determinada religião ou a certa cultura, bem como de impor um estilo de civilização que os outros não aceitam.”

Em 1º de março de 2019, durante uma visita ad limina dos bispos da Ásia Central a Roma, Dom Schneider, cuja diocese está localizada em uma nação com predominância muçulmana, expressou ao Papa Francisco sua preocupação com essa formulação. O Papa disse que a frase em questão sobre as “diversidades de religião” significava “a vontade permissiva de Deus”, e deu autorização explícita a Dom Schneider e aos outros bispos presentes para citar suas palavras. Dom Schneider, por sua vez, pediu ao Papa que esclarecesse a declaração de maneira oficial.

O Papa Francisco pareceu oferecer um esclarecimento informal em sua audiência geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019, mas nenhum esclarecimento ou correção oficial ao texto foi dado até o momento.

Nesta entrevista Dom Schneider revela novos detalhes a respeito de sua conversa franca e direta com o Santo Padre na reunião de 1º de março. Ele também expõe sua opinião sobre o esclarecimento informal do Papa na audiência geral de 3 de abril e a gravidade do estabelecimento de um “Comitê Superior” para implementar o documento de Abu Dhabi, na ausência de uma correção oficial da passagem controversa.

Segundo Dom Schneider, ao aplicar o documento de Abu Dhabi sem corrigir sua afirmação errônea sobre a diversidade das religiões, “certas pessoas na Igreja não apenas traem Jesus Cristo como o único Salvador da humanidade e da necessidade de Sua Igreja para a salvação eterna, mas também cometem uma grande injustiça e pecam contra o amor ao próximo”.

*   *   *

  • Excelência, em sua opinião o esclarecimento do Papa Francisco sobre o documento de Abu Dhabi durante a audiência geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019 , foi suficiente? E o que pensa V.E. sobre o que ele disse?

Na audiência geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019, o Papa Francisco disse o seguinte: “Por que Deus permite muitas religiões? Deus queria permitir isso: os teólogos escolásticos costumavam se referir à voluntas permissiva [vontade permissiva] de Deus. Quis Ele permitir esta realidade: há muitas religiões”.

Infelizmente, o Papa não fez nenhuma referência à frase objetivamente errônea do documento de Abu Dhabi, que diz: “O pluralismo e as diversidades de religião, de cor, de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio divino com que Deus criou os seres humanos”. Essa frase é errônea e contradiz a Revelação Divina, já que Deus nos revelou que não deseja diversas religiões, mas apenas a religião ordenada por Ele no Primeiro Mandamento do Decálogo: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te trouxe para fora da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não deves fazer para ti uma imagem esculpida, ou qualquer semelhança de qualquer coisa que esteja acima no céu, ou que esteja abaixo na terra, ou que esteja na água debaixo da terra. Não deves curvar-te a eles ou servi-los” (Ex 20, 2-5). Nosso Senhor Jesus Cristo confirmou a validade perene desse mandamento, dizendo: “Está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus, e servirás somente a Ele’” (Mt 4, 10). As palavras “Senhor” e “Deus”, que figuram no Primeiro Mandamento, significam a Santíssima Trindade, que é o único Senhor e o único Deus. Portanto, o que Deus deseja positivamente é que todos os homens cultuem e adorem somente a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, o único Senhor e Deus. O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Uma vez que exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, os Dez Mandamentos revelam, no seu conteúdo primordial, obrigações graves. São basicamente imutáveis e a sua obrigação impõe-se sempre e em toda a parte. Ninguém pode dispensar-se dela” (nº 2072).

As declarações do Papa Francisco na audiência geral da quarta-feira, 3 de abril de 2019, são um pequeno passo na direção de um esclarecimento da frase errônea do documento de Abu Dhabi. No entanto permanecem insuficientes, porquanto não mencionam expressamente o documento, e porque o católico comum e quase todos os não católicos nem conhecem ou compreendem o significado de “vontade permissiva de Deus”, uma expressão técnica da Teologia.

Do ponto de vista pastoral, é altamente irresponsável deixar os católicos do mundo inteiro em dúvida numa questão tão vital como a validade do Primeiro Mandamento do Decálogo e o mandato divino a todos os homens de crer consciente e voluntariamente em Jesus Cristo e de adorá-Lo como Deus e único Salvador da humanidade. Quando Deus ordenou a todos os homens “Este é o meu Filho amado, com quem me comprazo. Ouvi-o!” (Mt 17, 5) e quando, consequentemente, em Seu julgamento, Ele “infligirá vingança àqueles que não obedecem ao evangelho de Nosso Senhor Jesus” (2 Ts 1, 8), como pode Ele ao mesmo tempo considerar positivamente as diversidades de religião? As palavras inequívocas reveladas por Deus são inconciliáveis com a frase contida no documento de Abu Dhabi. Afirmar o contrário equivale a tentar fazer um círculo quadrado ou adotar a maneira de pensar do gnosticismo ou do hegelianismo.

Não se pode justificar a teoria de que a diversidade de religiões seja positivamente desejada por Deus em nome da verdade de fé de que o livre arbítrio é um presente de Deus criador. Deus concedeu o livre arbítrio ao homem precisamente para que ele possa adorar somente a Ele, que é a Santíssima Trindade. Deus não deu ao homem o livre arbítrio para adorar ídolos, ou negar ou blasfemar Seu Filho Encarnado Jesus Cristo, que disse: “Quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do único Filho de Deus” (Jo 3, 18).

Deus nos revelou que não deseja diversas religiões, mas apenas a religião ordenada por Ele no Primeiro Mandamento do Decálogo
  • Após a conversa com o Papa Francisco em 1º de março, durante a visita ad limina a Roma, Vossa Excelência teve mais alguma comunicação com ele sobre suas preocupações? Em caso afirmativo, foi antes ou depois da audiência geral da quarta-feira, 3 de abril de 2019?

Durante a audiência de 1º de março de 2019, por ocasião da visita ad limina, dirigi-me ao Papa Francisco, na presença dos bispos de nosso grupo, com estas palavras:

“Santíssimo Padre, na presença de Deus, imploro a Vossa Santidade, em nome de Jesus Cristo que nos julgará, a retratar-se dessa declaração do documento inter-religioso de Abu Dhabi, que relativiza a unicidade da fé em Jesus Cristo. Caso contrário, a Igreja em nossos dias não será franca e clara a respeito da verdade do Evangelho, como o apóstolo Paulo disse a Pedro em Antioquia” (ver Gálatas 2, 14).

O Santo Padre respondeu imediatamente, dizendo que é preciso explicar a frase no documento de Abu Dhabi, referente às diversidades de religião, no sentido da “vontade permissiva de Deus”. Ao que respondi: “Visto que essa frase enumera indiscriminadamente vários objetos do sábio desígnio divino, colocando-os logicamente no mesmo nível, então também a diversidade dos sexos masculino e feminino [ou a diversidade das raças] deve ser considerada, não como querida positivamente por Deus, mas como tendo sido apenas tolerada por Ele, da mesma maneira que Deus tolera a diversidade de religiões”.

O Papa Francisco admitiu então que a frase poderia ser mal interpretada, e disse: “Mas o Senhor pode dizer às pessoas que a diversidade de religiões corresponde à vontade permissiva de Deus.” Ao que respondi: “Santo Padre, por favor, diga isso a toda a Igreja”. Deixei meu pedido verbal com o Papa, e também na forma escrita.

O Papa Francisco respondeu-me gentilmente com uma carta datada de 5 de março de 2019, na qual repetiu suas palavras da audiência de 1º de março de 2019. Ele disse que é preciso entender a frase aplicando o princípio da vontade permissiva de Deus. Também observou que o documento de Abu Dhabi não pretende equiparar a vontade de Deus ao criar as diferenças de cor e sexo e ao permitir as diferenças de religião.

Com uma carta datada de 25 de março de 2019, respondi à missiva do Papa Francisco de 5 de março de 2019, agradecendo-lhe por sua gentileza e pedindo-lhe com franqueza fraterna que publicasse, pessoalmente ou através de um Dicastério da Santa Sé, uma nota de esclarecimento repetindo a substância do que ele disse na audiência de 1º de março de 2019 e em sua carta de 5 de março de 2019. Adicionei estas palavras: “Publicando tais palavras, Vossa Santidade terá a ocasião auspiciosa e abençoada de confessar Cristo, o Filho de Deus, em um momento histórico difícil da humanidade e da Igreja”.

Devo também dizer que o Papa Francisco me enviou um cartão, datado de 7 de abril de 2019, anexando uma cópia de seu discurso na audiência geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019, e sublinhando a seção referente à vontade permissiva de Deus. É claro que sou grato ao Santo Padre pela amável atenção.

Neopagãos celebram o solstício de verão em Stonehenge (Reino Unido)
  • O Documento sobre “Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum” não foi oficialmente emendado ou corrigido, e ainda assim foi estabelecido um “Comitê Superior” para implementá-lo. Na segunda-feira, 26 de agosto de 2019, a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou uma declaração informando que o Papa Francisco ficou satisfeito ao saber da formação de um “Comitê Superior” para alcançar as metas contidas no documento. De acordo com a declaração, o Papa Francisco disse a seu respeito: “Embora muitas vezes, infelizmente, seja o mal, o ódio, a divisão a fazer notícia, há um oceano oculto de bem que cresce e nos faz esperar no diálogo, no conhecimento mútuo, na possibilidade de construir juntos com os fiéis de outras religiões e com todos os homens e mulheres de boa vontade, um mundo de fraternidade e de paz”. Excelência, qual é a gravidade desse assunto?

O problema é da maior gravidade, porque, sob a frase retoricamente bela e intelectualmente sedutora de “fraternidade humana”, certas pessoas na Igreja estão de fato promovendo hoje a negligência do primeiro Mandamento do Decálogo e a traição do âmago do Evangelho. Por mais nobres que sejam tais objetivos de “fraternidade humana” e “paz mundial”, eles não podem ser promovidos à custa de relativizar a verdade da unicidade de Jesus Cristo e de Sua Igreja e de minar o primeiro Mandamento do Decálogo.

O documento de Abu Dhabi sobre “Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum” e o “Comitê Superior” encarregado de implementá-lo são como um bolo lindamente decorado que contém uma substância nociva. Cedo ou tarde, quase sem se perceber, enfraquecerá o sistema imunológico do corpo.

O estabelecimento do “Comitê Superior” acima mencionado, encarregado de implementar em todos os níveis, entre outros bons objetivos, o princípio de uma “diversidade de religiões” supostamente desejada por Deus, na verdade paralisa a missão ad gentes da Igreja, sufoca o zelo ardente de evangelizar todos os homens — é claro que com amor e respeito — e dá a impressão de que a Igreja hoje está dizendo: Tenho vergonha do Evangelho; Tenho vergonha de evangelizar; Tenho vergonha de trazer a luz do Evangelho a todos aqueles que ainda não creem em Cristo. É o contrário do que disse São Paulo, Apóstolo dos gentios. Ele, pelo contrário, declarou: “Não tenho vergonha do Evangelho” (Rom 1, 16) e “Ai de mim se não pregar o Evangelho!” (1 Cor 9, 16).

O Documento de Abu Dhabi e os objetivos do “Comitê Superior” também enfraquecem consideravelmente uma das características e tarefas essenciais da Igreja, ou seja, ser missionária e cuidar principalmente da salvação eterna dos homens. Eles reduzem as principais aspirações da humanidade aos valores temporais e imanentes da fraternidade, da paz e da convivência. De fato, as tentativas de paz estão destinadas ao fracasso se não forem propostas em nome de Jesus Cristo. Esta verdade recorda-nos profeticamente o Papa Pio XI, que disse que as principais causas das calamidades que avassalam o gênero humano “provêm de terem a maior parte dos homens removido assim, da vida particular como da vida pública, Jesus Cristo e sua lei sacrossanta”. Pio XI prosseguiu dizendo que “baldado era esperar paz duradoura entre os povos, enquanto os indivíduos e as nações recusassem reconhecer e proclamar a Soberania de Nosso Salvador” (Encíclica Quas Primas, 1). O mesmo Papa ensinou que os católicos, “propagando com seu zelo diligente o reino de Cristo, trabalham com maior eficácia para estabelecer a paz geral entre os homens” (Encíclica Ubi arcano, 58).

Uma paz que seja uma realidade do mundo interior e puramente humana falhará. Pois, de acordo com Pio XI, “a paz de Cristo não se alimenta de bens caducos, mas daquelas realidades espirituais e eternas cuja superior excelência Cristo em pessoa revelou ao mundo e não cessou de mostrar aos homens. Nesse sentido disse: Pois, que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma? Ou que dará um homem em troca da sua alma? (Mt 16, 26). E ensinou em seguida a constância e firmeza de alma que deve possuir o cristão: Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo (Mt 10, 28; Lc 12, 14)” (Encíclica Ubi arcano 36).

Deus criou os homens para o Céu. Deus criou todos os homens para conhecerem Jesus Cristo, terem vida sobrenatural n’Ele e alcançarem a vida eterna. Levar todos os homens a Jesus Cristo e à vida eterna é, portanto, a missão mais importante da Igreja. O Concílio Vaticano II nos forneceu uma bela e adequada explicação para esta missão: “A razão desta atividade missionária vem da vontade de Deus, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Ora, há um só Deus, e um só que é mediador de Deus e dos homens, o homem Cristo Jesus, que se deu a si mesmo como preço de resgate por todos (1 Tim. 2, 4-6), e não há salvação em nenhum outro (Act. 4,12). Portanto, é preciso que todos se convertam a Cristo, conhecido pela pregação da Igreja, e que sejam incorporados, pelo Batismo, a Ele e à Igreja, seu corpo místico. O próprio Cristo, aliás, ao inculcar por palavras expressas a necessidade da fé e do Batismo (cf. Mc 16, 16; Jo 3, 5), confirmou também, por isso mesmo, a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo, que é como que a porta de entrada. Por isso, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando que Deus fundou por intermédio de Jesus Cristo a Igreja católica como necessária, não quisessem, apesar disso, entrar nela ou nela perseverar” (Cf. Decreto “Treinamento sacerdotal”, 4, 8, 9). “Por isso também, embora Deus, por caminhos que só Ele sabe, possa conduzir à fé, sem a qual é impossível ser-Lhe agradável (Heb 11, 6), os homens que ignoram o Evangelho sem culpa sua, incumbem à Igreja, apesar de tudo, a obrigação (1 Cor 9, 16) e o sagrado direito de evangelizar. Daí vem que a atividade missionária conserve ainda hoje, e haja de conservar sempre, toda a sua eficácia e a sua necessidade” (Ad Gentes, 7).

Quero enfatizar estas últimas palavras: A atividade missionária da Igreja conserva ainda hoje toda a sua necessidade!

  • Vossa Excelência gostaria de acrescentar algo?

Em sua audiência geral de 3 de abril de 2019, o Papa Francisco também disse o seguinte sobre as diversidades de religião: “Há muitas religiões; algumas nascem da cultura, mas olham sempre para o céu, olham para Deus”.

Estas palavras contradizem de alguma forma a seguinte declaração luminosa e clara do Papa Paulo VI: “A nossa religião instaura efetivamente uma relação autêntica e viva com Deus, que as outras religiões não conseguem estabelecer, se bem que elas tenham, por assim dizer, os seus braços estendidos para o céu” (Encíclica Evangelii Nuntiandi, 53). Quão oportunas são também as palavras do Papa Leão XIII no sentido de que o erro de que “todas as religiões são semelhantes” é calculado pela Maçonaria “para trazer a ruína de todas as formas de religião, e especialmente da religião Católica, que, como é a única que é verdadeira, não pode, sem grande injustiça, ser considerada como meramente igual às outras religiões” (Encíclica Humanum genus, 16).

Também são adequadas as seguintes palavras do Papa Paulo VI:

“Foi com alegria e reconforto que nós ouvimos, no final da grande assembleia de outubro de 1974, estas luminosas palavras: ‘Nós queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja’; tarefa e missão, que as amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição.” (Encíclica Evangelii Nuntiandi, 14).

Portanto, como ensina o Catecismo da Igreja Católica, “o fim último da missão consiste em fazer todos os homens participantes na comunhão existente entre o Pai e o Filho, no Espírito de amor” (nº 850).

São Francisco Xavier evangelizando os índios – Peeter Sion, séc. XVII. Coleção Particular

Ao reconhecerem direta ou indiretamente a igualdade de todas as religiões — através da divulgação e implementação do documento de Abu Dhabi (de 4 de fevereiro de 2019), sem corrigir sua afirmação errônea sobre a diversidade de religiões —, alguns homens na Igreja hoje não apenas traem Jesus Cristo como o único Salvador da humanidade e a necessidade de Sua Igreja para a salvação eterna, mas também cometem uma grande injustiça e pecam contra o amor ao próximo. Em 1542, São Francisco Xavier escreveu das Índias a seu pai espiritual Santo Inácio de Loyola: “Muitas pessoas nesses lugares não são cristãs simplesmente porque não há ninguém para torná-las tais. Muitas vezes sinto o desejo de viajar para as universidades da Europa, especialmente Paris, e gritar por toda parte, como um louco, para impulsionar aqueles que têm mais conhecimento do que caridade, com estas palavras: ‘Ai, quantas almas, por causa de sua preguiça, são privadas do Céu e terminam no inferno!’”.

Possam essas palavras inflamadas do patrono celestial das missões, e primeiro grande missionário jesuíta, tocar a mente e o coração de todos os católicos, e especialmente o do primeiro Papa jesuíta, para que, com coragem evangélica e apostólica, ele possa retratar-se da declaração errônea sobre as diversidades de religião contidas no documento de Abu Dhabi. Por tal ato, ele poderá muito bem perder a amizade e a estima dos poderosos deste mundo, mas certamente não a amizade e a estima de Jesus Cristo, de acordo com Suas palavras: “Todo aquele que me confessar diante dos homens, Eu também o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10, 32).

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