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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Tratado Marial de São Luís Grignion: papel de Nossa Senhora na Encarnação (VI)


Continuamos a publicação dos comentários ao Tratado da Verdadeira Devoção feitos pelo Prof. Plinio em meados do século XX: o papel de Maria na Encarnação e a cooperação dEla com o Padre Eterno.

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Papel de Nossa Senhora na Encarnação 

“Por esse motivo o papel de Nossa Senhora na Encarnação situa bem o papel d’Ela em todos os planos divinos, e precisamente no que eles têm de mais importante e de mais fundamental. 

Achamos admirável, por exemplo, Nosso Senhor ter escolhido Constantino para tirar a Igreja das catacumbas. Mas o que é isto, perto de ter escolhido Nossa Senhora para n’Ela ser gerado o Salvador? Absolutamente nada. Nós admiramos muito Anchieta, porque ele evangelizou o Brasil. Mas o que é evangelizar um país, em comparação com o cooperar na Encarnação do Verbo? Nada! 

Digamos que se tratasse de salvar o mundo de sua crise atual e de restabelecer o reino de Cristo, e suponhamos que Nosso Senhor escolhesse um só homem para essa tarefa. Nós acharíamos esta missão algo de formidável, e com razão. Mas o que seria isto, em comparação com a missão de Nossa Senhora? Nada! Ela situa-se num plano que está fora de comparação com a missão histórica de qualquer homem, inclusive com a de São Pedro, por incrível que pareça, apesar de ter sido ele o primeiro Papa. O papel de Maria está fora de comparação com o papel de São Pedro. 

A respeito de Nossa Senhora, sempre se é obrigado a repetir a expressão “fora de comparação”, porque Ela faz estalar todo vocabulário humano. Há uma tal desproporção entre Ela e todas as criaturas, que a única coisa segura que se pode dizer é que é fora de comparação. 

Lembradas essas noções, devemos concluir que estudar a participação de Nossa Senhora na Encarnação é estudar o Seu papel no acontecimento mais importante de todos os tempos. E qual foi esse papel? São Luís Grignion responde, analisando a participação das três Pessoas da Santíssima Trindade na Encarnação – o papel do Padre, do Filho e do Espírito Santo – e depois a cooperação de Nossa Senhora com o Padre, com o Filho e com o Espírito Santo. 

A COOPERAÇÃO DE NOSSA SENHORA COM O PADRE ETERNO 

Conforme a linguagem das Escrituras, Nosso Senhor foi mandado ao mundo pelo Padre Eterno para salvar os homens. O Antigo Testamento, numa das suas profecias, diz de Nosso Senhor: “Eis que venho, como está escrito de mim no rolo do livro, para fazer a Tua vontade” (Ps. XXXIX, 8-9). Jesus Cristo fala constantemente de Seu Pai Celeste, como sendo Aquele que O enviou, Aquele que Se manifestou sobre Ele, considerando-O Seu Filho bem amado, Aquele a Quem Ele invocou quando entregou Seu espírito, dizendo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? ” (Mt. XXVII, 46). Sendo o Padre Eterno Aquele que nos mandou Jesus Cristo, qual foi o papel de Nossa Senhora neste ato? 

A oração de Nossa Senhora na vinda do Messias – Em primeiro lugar, devemos considerar que o mundo não era mais digno de receber a Nosso Senhor Jesus Cristo. Em conseqüência, o Padre Eterno O enviou, não por causa do mundo, mas por causa de Nossa Senhora. Não só porque foi Ela quem o pediu – e se Ela não tivesse pedido a vinda de Nosso Senhor, Ele não teria vindo – mas Deus Padre O mandou a Ela, porque só Ela era digna de O receber. 

Nessa perspectiva compreende-se melhor a queixa contida no Evangelho de São João: “Veio para o que era seu, e os seus não O receberam” (Jo, I, 11). Os seus não O receberiam, mas Nossa Senhora O receberia de modo sublime, e por isso Ele veio. Veio porque encontrou Nossa Senhora no mundo, e se não A tivesse encontrado, não teria vindo. A vinda d’Ele ao mundo é o produto da presença e das orações da Virgem Santíssima. 

Dessa forma colaborou Ela com o ato do Padre Eterno pelo qual Jesus Cristo foi mandado ao mundo. 

A participação de Nossa Senhora na fecundidade do Padre Eterno – Além disso, o Padre Eterno comunicou a Nossa Senhora Sua fecundidade, para que Ela pudesse gerar a Jesus Cristo. O Padre Eterno é de uma fecundidade infinita. Sua fecundidade é tal, que a idéia que Ele tem de Si mesmo já é uma Pessoa Divina. Pois bem, Ele comunicou a Nossa Senhora Sua fecundidade, para que Ela gerasse a Jesus Cristo e a todos os membros do Corpo Místico de Cristo. Nossa Senhora é, pois, Mãe dos fiéis, não apenas no sentido alegórico e metafórico (Ela nos quer bem como se fosse nossa mãe), mas é verdadeiramente nossa Mãe na ordem da graça. E essa maternidade divina existe, porque o Padre Eterno lhe comunicou a Sua fecundidade. 

O poder da oração de Nossa Senhora e a nossa vida espiritual 

Podemos tirar aplicações para nossa vida espiritual, tanto do fato de a oração de Nossa Senhora ter apressado a vinda do Messias, quanto de ter Ela recebido do Padre Eterno sua fecundidade. Considerando Nossa Senhora capaz de, com a sua prece, apressar a vinda do Messias, que aplicações podemos tirar? 

Devemos primeiramente considerar a Santíssima Virgem no seu zelo pela causa de Deus. Na oração que fazia, Ela certamente considerara – isto é de Fé – a situação, que atingira um ápice de miséria moral, em que tinha caído o povo eleito. Nessa oração, portanto, Ela desejava ardentemente que Israel fosse reerguido à sua antiga condição. Considerava ainda a decadência da Humanidade, sabendo melhor que ninguém quantas almas estavam se perdendo naquela era pagã, e vendo a glória de Satanás a imperar sobre o mundo antigo. 

Maria Santíssima fez então na Terra o papel de São Miguel Arcanjo no Céu. Sua oração, pedindo que Deus viesse à Terra, equivale ao “Quis ut Deus? ” do Arcanjo. É Ela que se levanta contra esse estado de coisas, é só Ela que tem a oração bastante poderosa para desferir um golpe que tudo transforma. 

Então, a plenitude dos tempos que se encerram: Nosso Senhor Jesus Cristo nasce, e toda a humanidade é reconstruída, regenerada, elevada e santificada por Nossa Senhora. As almas começam a se salvar em profusão, as portas do Céu abrem-se, o inferno é esmagado, a morte é destruída, a Igreja Católica floresce sobre toda a face da Terra. Tudo como produto da oração de Nossa Senhora. 

Não é verdade que Nossa Senhora, também sob este aspecto, se apresenta a nós como um verdadeiro modelo? Não devemos desejar em nossos dias a vitória de Nosso Senhor, como Maria Santíssima a desejou em sua época? Não há uma analogia absoluta entre o ardor com que Ela desejou a instauração do reino de Cristo na Terra e o ardor com que o devemos desejar em nossos dias? Não é verdade que, se a oração d’Ela foi necessária para a realização da Encarnação, é indispensável também para que consigamos em nossos dias a vitória de Jesus Cristo no mundo? Quando nos esfalfamos na luta pela vitória de Jesus Cristo em nossos dias, lembramo-nos de rezar a Nossa Senhora? Quando rezamos a Ela, lembramo-nos de pedir esta graça? 

Não seria uma boa oração se, por exemplo, ao contemplarmos o mistério da Anunciação na primeira dezena do terço, tivéssemos em mente Nossa Senhora que pede a vinda do Salvador? E muito apropriado seria pedirmos a Ela que Jesus Cristo novamente triunfe no mundo, e ainda contemplarmos a vinda do Salvador e a futura vitória da Igreja Católica. Não temos aí uma boa aplicação desses Mistérios para a vida espiritual? Não é assim que ela deve ser vista, vivida e conduzida? Isto não é muito mais sólido que um arrastado murmúrio piedoso? É com essas verdades de Fé que se alimenta a piedade. Com verdades destas há nutrimento em quantidade para a vida espiritual. 

Contemplemos Nossa Senhora apressando, com Sua oração, a vinda do Messias. Não é verdade que Nosso Senhor vem a nós também no momento da Comunhão? Não é verdade que podemos e devemos pedir a Ela, quando nos preparamos para recebê-Lo, algo dos sentimentos com que Ela O recebeu quando Ele se encarnou

Se desejamos conseguir para alguém a graça da comunhão diária, não será útil pedir a Nossa Senhora que consiga para aquela alma a vinda quotidiana de Nosso Senhor, lembrando-A da eficácia da prece com que obteve a vinda de Jesus Cristo para o mundo? 

A participação de Nossa Senhora na fecundidade do Padre Eterno e nossa vida espiritual 

Consideremos a participação de Nossa Senhora na fecundidade do Padre Eterno para gerar membros do Corpo Místico de Cristo. Todo fiel é um membro deste Corpo Místico. Quando passamos junto ao batistério, devemos nos lembrar de fazer uma oração rogando à Santíssima Virgem que Ela nos leve, até o momento da morte, na perseverança à graça que então recebemos, e que nos confirme nessa graça a vida inteira. Junto a essa mesma pia batismal que nos viu entrar para o seio da Igreja Católica, lugar onde nascemos para a vida sobrenatural e onde, graças a uma prece de Nossa Senhora e à fecundidade de Deus Nosso Senhor, fomos gerados membros do Corpo Místico de Cristo, do qual Nossa Senhora é Mãe verdadeira. 

Lembremo-nos de que fomos gerados para a vida da graça por Nossa Senhora, com a participação da própria fecundidade do Padre Eterno; e de que recebemos essa vida por meio d’Ela, de modo inteiramente gratuito, porque sem as orações e sem a participação d’Ela não a teríamos obtido. Tudo isto nos permite, pois, pedir-Lhe que nos mantenha nessa graça, e que a cumule ainda com a virtude do senso católico – coroação dessa união extremamente íntima com Cristo – que recebemos pelo ministério d’Ela. 

A piedade deve consistir em formar disposições de espírito que tenham base nessas verdades ensinadas pela Igreja e pela Teologia, e não em meros sentimentos. Verdades como essas é que produzem uma devoção a Nossa Senhora muito boa, muito séria e muito sólida. Assim é que se constrói a verdadeira devoção a Nossa Senhora, e que se alicerça a verdadeira vida espiritual.”

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_1951_comentariosaotratado02.htm#.Y7t5H3bMJjE

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Nuno Alvares

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