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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Tratado Marial de São Luís Grignion: Cooperação de Nossa Senhora com Deus Filho (VII)


Vimos, no Post anterior, a cooperação de Nossa Senhora com o Padre Eterno e seu papel em nossa santificação.

Hoje, reproduzimos os comentários do Prof. Plinio sobre a “A COOPERAÇÃO DE NOSSA SENHORA COM DEUS FILHO” 

Nosso Senhor, formado no seio virginal de Maria Santíssima – Em primeiro lugar, devemos considerar a Encarnação do Filho em Nossa Senhora. 

Há um livro do Padre J. M. (que não se pode recomendar a qualquer pessoa) em que ele estuda o processo da maternidade e da vida de Nosso Senhor em Nossa Senhora: como Ela, pelo processo da maternidade, foi gradualmente fornecendo-Lhe a sua carne e o seu sangue; como foi sendo formado, dentro de seu seio virginal, o corpo de Nosso Senhor, unido à divindade pela união hipostática. A participação d’Ela no mistério da Encarnação é imensa. Considerando que o corpo de Nosso Senhor, Sua carne e Seu sangue, são carne da carne e sangue do sangue de Nossa Senhora, não se pode imaginar maior intimidade com Deus. O papel de Nossa Senhora nesse mistério foi tal, que Deus quis que Ela antes desse o Seu consentimento, para depois dar a Sua Carne, o Seu Sangue e, portanto, algo de seu próprio Ser. 

Como diz São Luís Grignion, foi vontade de Deus Padre que Nosso Senhor ficasse contido n’Ela como dentro de uma arca, de um tabernáculo, em que Ele operava maravilhas de graça só por Ela conhecidas. E foi dentro d’Ela, como dentro de um santuário, que Nosso Senhor Jesus Cristo começou a dar glória ao Padre Eterno. No próprio momento em que começou a existir a união hipostática, Deus recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo um ato perfeito de amor, o mais perfeito que jamais se deu na Terra. Ninguém jamais prestou um ato de amor tão perfeito a Deus quanto a humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

São Luís Grignion mostra ainda como Jesus Cristo, que era Senhor onipotente, contido dentro de Nossa Senhora, deixou-Se transportar para onde Ela o quis, não só pelas montanhas da Judéia para visitar Santa Isabel, como por todos os lugares pelos quais Ela o quis. 

A seguir, ele desenvolve a tese de que Nossa Senhora foi incumbida de criar Nosso Senhor e de O governar em Sua infância. Era uma infância em que Ele tinha para com Ela as mesmas relações de uma criança para com sua mãe. Pois seria falso imaginar que, na presença de outros, Nosso Senhor fazia o papel de criança, mas que, quando não havia ninguém, apresentava-se como Deus. Ele estava junto a Nossa Senhora sempre como uma criança, e Ela sabia que Ele era Deus, e tratava aquela criança como quem trata a um Deus. 

Depois Nosso Senhor cresceu, passando trinta anos de Sua vida junto d’Ela, e consagrando aos homens somente três. Por fim, Ela O levou até o alto da cruz, e do alto da cruz ofereceu-O a Deus. 

São Luís Grignion resume o papel de Nossa Senhora na Redenção: Ela gerou a vítima, Ela criou a vítima, Ela acariciou a vítima, Ela conduziu a vítima ao altar do sacrifício, e Ela mesma imolou a vítima.

Porque verdadeiramente Nosso Senhor morreu com o consentimento de Nossa Senhora. Ela quis que Ele sofresse tudo o que sofreu, e Ela quis que Ele morresse da maneira como morreu. Ela consentiu naquela morte, estava de acordo. Ela queria que a morte de Seu Filho fosse daquela forma. 

O papel d’Ela na Encarnação e na Redenção do gênero humano é um papel imenso; é um papel como maior não poderia ser.  

Devoção a Nossa Senhora e apostolado 

Há aplicações maravilhosas para nossa vida espiritual, a tirar destas considerações: Nosso Senhor vivendo trinta anos sob a dependência de Nossa Senhora. 

Em nossa vida de piedade, por exemplo, que importância damos, respectivamente, à nossa união com Nossa Senhora e ao nosso apostolado? Temos a impressão de que nosso apostolado é muito mais importante que a nossa união com Nossa Senhora. E isso de tal modo que temos, de um lado, nosso quarto de hora de oração a Ela, e depois nosso “enorme” apostolado. Nosso Senhor nos dá o exemplo do contrário. Tempo dado à união com Nossa Senhora: trinta anos; ao apostolado: três. 

Podemos bem compreender o que representa de homenagem – homenagem de um Deus, a palavra parece até absurda! – e de glória para Ela o Verbo Encarnado vir ao mundo e passar trinta anos junto d’Ela, dedicando apenas três à realização de Sua missão. Podemos bem compreender o que significa a graça de estar junto de Maria Santíssima. 

Assim sendo, quando vamos fazer uma visita a Nossa Senhora numa igreja, podemos nos unir a esses sentimentos de Nosso Senhor. Convém que interrompamos com freqüência nossas atividades, e entremos numa igreja para fazer uma visita a Maria com esta intenção: imitar a Nosso Senhor, que não se apressou em iniciar desde logo Sua vida pública, mas consagrou trinta anos a estar junto de Nossa Senhora. Vou seguir Seu exemplo; por isso peço-Lhe que, dada a minha impossibilidade de agradar como devo a Nossa Senhora, que Ele A agrade por mim neste momento. Quando me coloco diante do tabernáculo, devo pedir a Nosso Senhor a graça de que, em meu nome, Ele trate Nossa Senhora como eu gostaria de o fazer, embora eu seja incapaz. 

Eis uma boa visita ao Santíssimo Sacramento e a Nossa Senhora. Com isto se constrói uma vida espiritual digna desse nome. Mas é preciso que tenhamos em mente todas essas idéias, esses princípios, que eles estejam sempre presentes, para que possam ser utilizados quando as ocasiões se apresentarem. 

Pelo acima exposto, vemos como seria tolo dizer que há secura ou geometrismo na piedade, por parte de quem assim procede. O que aí não se pode desejar é o vácuo, é a basófia. Pois o que recomendamos não é secura nem geometrismo, mas coerência: a inteligência ilumina, a vontade quer, e a sensibilidade acompanha o preito de amor da vontade. E se acaso a sensibilidade não acompanhar, não terá maior importância, pois o ato de amor estará feito. O amor reside na vontade. 

Não se trata, portanto, de experimentar uma espécie de consolação sensível, de sentir o trêmulo da comoção, para só então rezar. Trata-se, sim, de ter convicção e resolução. A Fé nos ensina que Nossa Senhora é imensamente bondosa, e por isso vamos a Ela com confiança. É uma consideração racional, que não nasceu da sensibilidade. Essa atitude racional na oração, a construção de uma vida de piedade toda ela alicerçada sobre convicções recebidas da Fé, que a razão manipula para a vida espiritual, isso sim é verdadeiramente a seriedade na vida de piedade. E não apenas para produzir uma faísca passageira de emoção mariana; o que desejamos é produzir convicções profundas e construir uma estrutura de espírito útil à vida espiritual.  

A intimidade entre Nosso Senhor e Nossa Senhora aplicada à nossa vida espiritual 

São Luís Grignion lembra, entre outras coisas, que Nosso Senhor, no período de Sua gestação, enclausurou-se dentro do ventre puríssimo de Nossa Senhora, e que aí encontrou para Si um tabernáculo perfeito. Para compreendermos bem o que isto significa, é interessante apelarmos para certos conceitos subjacentes à seção “Ambientes, Costumes, Civilizações“, de “Catolicismo”. Estando no ventre de Nossa Senhora no período de Sua gestação, Nosso Senhor aí encontrou todo o necessário para suas delícias espirituais. Havia ali um ambiente, uma atmosfera que Lhe era perfeita, graças às virtudes excelsas de Maria Santíssima. Durante esse período, Nosso Senhor teve com Ela uma união verdadeiramente incomparável. 

Já consideramos o fato de que, nesse período, é Nossa Senhora que vai fornecendo sua própria carne e seu próprio sangue para a formação do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Havia uma atividade em extremo íntima entre Ele e Ela, sendo preciso notar que Nosso Senhor teve o uso da razão desde o primeiro instante do Seu ser. Ele, portanto, vivia em Nossa Senhora dispondo já completamente de Sua inteligência. Podemos imaginar a intimidade entre eles, o alto grau de cada ato de amor? A cada colaboração que Ela prestava para a formação de Seu corpo, correspondia da parte d’Ele uma série de graças a Ela concedidas. Durante a gestação de Nosso Senhor havia, portanto, entre Ele e Sua Mãe, uma união verdadeiramente inexprimível e de uma sublimidade incomparável. 

Em que sentido a consideração dessa união nos pode ser benéfica? O homem, na Igreja Católica, encontra-se diante de um firmamento de verdades. Assim como, colocados diante do firmamento físico, contemplamos inúmeras maravilhas que enriquecem a nossa alma, assim também, no firmamento de verdades da Igreja Católica, poucas maravilhas podemos contemplar tão grandes quanto a intimidade de uma alma inteiramente humana – como era a de Nossa Senhora – com Nosso Senhor Jesus Cristo, durante o tempo da Sua gestação. 

Essa união dá-nos uma idéia da intimidade que também nós podemos ter com Nosso Senhor, através da nossa santificação. Faz-nos compreender um pouco o que é a vida da graça, e dá-nos a apetência de maior união com Jesus Cristo. 

Estas considerações não devem ficar no vácuo. Na vida espiritual, devemos ter propriamente apetência destes dons sobrenaturais, devemos desejar a união com Deus e os bens eternos. O que caracteriza o católico, diferenciando-o do não católico, é que para o católico o desejo destes bens sobrenaturais e eternos é a dominante na vida; sua felicidade deve nisto consistir, e não na concupiscência dos bens terrenos. E é nesta atmosfera que podemos imaginar o que significava a intimidade de Nosso Senhor com Nossa Senhora durante o período da gestação.”

*** 

Veremos no Post seguinte exemplos de aplicação dessa doutrina nas Bodas de Caná e na santificação de São João Batista.

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_1951_comentariosaotratado02.htm#.Y7zHMnbMJjE

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Nuno Alvares

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