Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
4 min — há 14 anos — Atualizado em: 10/6/2015, 3:05:56 AM
Dissidentes cubanos denunciam colaboração da Hierarquia católica do país e de líderes populistas latino-americanos com a ditadura e pedem ao Ocidente mais rigor contra o regime marxista
“Ratos e baratas, água a cada três dias, comida podre, autoflagelação e excrementos pelo chão” – esse foi o ambiente que os ex-presos políticos de Cuba, agora exilados na Espanha, enfrentaram durante sete anos nos presídios da ilha. “Éramos totalmente saudáveis, mas saímos de lá cheios de problemas”, declarou Júlio César Rodríguez.(1)
O estado das prisões é um indicador da miséria que o socialismo impôs.
A economia “solidária” e “participativa” já nem sustenta o sistema de racionamento de alimentos e produtos de higiene. Os comedores (restaurantes) públicos deixaram de fornecer 3,5 milhões de parcos almoços por dia para funcionários do Partido Comunista.
A Reforma Agrária há muito privou a ilha de alimentos suficientes.As colheitas de açúcar e tabaco — outrora grandes matérias-primas de exportação — caíram a níveis inferiores aos de várias décadas atrás.
Cuba sobrevivia com a receita do turismo europeu e americano, porém a crise econômica afastou os turistas. HugoChávez completava o raquítico orçamento com petróleo, mas a socializada Venezuela também não consegue alimentar seus cidadãos, e depende dos envios que o presidente Lula prometeu para que o ditador venezuelano consiga manter-se no poder.
O Brasil fornecia milhões de dólares em investimentos de infra-estrutura, mas os especialistas brasileiros em Reforma Agrária não ensinaram nada que os cubanos não conhecessem à perfeição: não trabalhar, não colher, não produzir e não comer…
Fidel Castro saiu de sua reclusão hospitalar para dizer a “The Atlantic”, revista da esquerda americana: “O modelo cubano já não funciona nem para nós”.(2) A surpresa foi grande, e o “líder máximo” esboçou um desmentido nada convincente.
Pouco depois Raul Castro anunciou a demissão de 500.000 funcionários públicos no decurso de seis meses, mas não esclareceu como poderão manter-se depois disso os ex-funcionários públicos, quando se sabe que é praticamente inexistente a iniciativa privada que poderia admiti-los.
A ajuda dos EUA e da União Européia é questão de vida ou morte para o regime. Mas este não quer renunciar à utopia comunista. Como fazer então?
Denúncia dos exilados
Uma velha fórmula foi tentada: Havana exilou presos políticos em troca do fim de embargos econômicos, além do envio de produtos de sobrevivência — coisa absolutamente decisiva.
Quem seria o avalista da permuta de presos por alimentos? O cardeal Jaime Ortega Alamino, arcebispo de Havana e presidente da Conferência Episcopal Cubana, preenchia as condições indispensáveis para isso: o regime confia nele, e sua figura de alto representante da Igreja Católica tornava a operação deglutível pela opinião pública ocidental. Foi assim que o cardeal Ortega esteve no centro das combinações.
Porém, aconteceu algo inesperado: os exilados denunciaram o comércio humano de que se sentiam objeto; declararam publicamente que o fim do bloqueio só serviria para perpetuar a ditadura comunista; imploraram aos EUA e à UE para não levantá-lo e, pelo contrário, serem bem mais exigentes com a ditadura castrista.(3) “Peço à União Européia que não abandone a posição comum. […] Não pode ser abandonada, porque Cuba não deu sinais de mudança”, afirmou o dissidente Normando Hernández ante o Parlamento Europeu.(4)
As corajosas vítimas do comunismo denunciaram também a cumplicidade de líderes populistas latino-americanos com o esquema de repressão e morte que impera na ilha. Em particular, o dissidente Omar Rodríguez verberou a conduta do presidente Lula: “Quando ocorreu a tragédia com Orlando Zapata [dissidente morto em greve de fome pouco antes de Lula chegar a Cuba], o presidente brasileiro apertava as mãos de Fidel e Raul Castro. Ele não intercedeu, não fez nada para salvar a vida de Orlando Zapata. Isso significa que ele se aliou ao crime, e não à justiça”.(5)
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Notas:
1. “Folha de S. Paulo”, 16-7-10.
3. “El Mundo”, Madri, 13-9-10.
4. Id., ibid.
5. Veja, “Em Coletiva, dissidentes dizem que havia ratos em suas celas e voltam a criticar Lula”.
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