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Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo

Cristo crucificado, escândalo para os muçulmanos e loucura para os laicistas…

Por Roberto De Mattei

7 minhá 10 anos — Atualizado em: 9/1/2017, 8:51:40 PM


Marcher-contre-la-TerreurMarcher contre la Terreur (Marchar contra o Terror), foi o título com o qual “Le Monde” [foto], “Corriere della Sera” e os grandes jornais ocidentais apresentaram o grande desfile laicista de 11 de janeiro. Nunca um slogan foi mais hipócrita do que esse, imposto pelos meios de comunicação de massa como reação ao massacre de Paris de 7 de janeiro. Com efeito, que sentido há falar de Terror sem adicionar ao substantivo o adjetivo “islâmico”?

O ataque à redação de “Charlie Hebdo” foi perpetrado ao grito de “Allah akbar!” para vingar Maomé ofendido pelas caricaturas e por detrás dos Kalashnicovs terroristas há uma visão precisa do mundo: a muçulmana. Só agora as agências de inteligência ocidentais começam a levar a sério as ameaças de Abu Muhammad al-Adnani [foto abaixo], contidos em um comunicado multilíngue difundido em 21 de setembro de 2014 pelo quotidiano online “The Long War Journal”.

“Conquistaremos Roma, espezinharemos suas cruzes, faremos escravas suas mulheres com a permissão de Alá, o Altíssimo”, declarou a seus sequazes o porta-voz do “Estado islâmico”, que não simplesmente repetiu que exterminará os “infiéis” onde quer que estiverem, mas mostrou também de que modo:“Colocai explosivos em suas estradas. Atacai suas bases, irrompei em suas casas. Cortai suas cabeças. Que eles não se sintam seguros em nenhum lugar! Se não conseguirdes encontrar os explosivos e as munições, isolai os infiéis americanos, os franceses infiéis ou  não importa quais outros de seus aliados: esmagai seus crânios a golpes de pedra, matai-os com uma faca, atropelai-os com os vossos carros, jogai-os no precipício, sufocai-os ou envenenai-os”.

Marcher-contre-la-Terreur-Paris

Há uma ilusão de que a guerra atual não é aquela declarada pelo Islã ao Ocidente, mas uma guerra travada dentro do mundo muçulmano, e que a única maneira de salvar-se seria ajudar o Islã moderado a derrotar o Islã fundamentalista, como escreveu no “Corriere della Sera” em 11 de janeiro Sergio Romano, um observador que entretanto passa por inteligente. Na França, o slogan mais repetido é o de evitar o “amálgama”, ou seja, a identificação entre o Islã moderado e o radical. Mas o fim comum a todo o Islã é a conquista do Ocidente e do mundo. Quem não compartilhar esse objetivo não é um moderado, simplesmente não é um bom muçulmano.

As divergências, quando existem, não dizem respeito ao fim, mas ao meio: os muçulmanos da Al Qaeda e do ISIS abraçaram a via leninista da ação violenta, enquanto a Irmandade Muçulmana utiliza a armagramsciana da hegemonia intelectual. As mesquitas são o centro de propulsão da guerra cultural, que Bat Ye’or define como softjihad, enquanto com o termo hardjihad ela define a guerra militar para aterrorizar e aniquilar o inimigo. Pode-se discutir, e certamente se discute dentro do Islã, sobre a escolha dos meios, mas há concórdia quanto ao objetivo final: a extensão para o mundo da sharia, a lei corânica.

F

O Islã é em qualquer caso um substantivo verbal traduzível por “submissão”. A submissão para evitar o Terror, o cenário do futuro europeu imaginado pelo romancista Michel Houellebecq em seu último livro — Soumission [foto acimaapressadamente retirado das livrarias francesas. Não ao Terror significa para os nossos políticos não à submissão violenta dos jihadistas e sim a uma submissão pacífica, que conduz suavemente o Ocidente a uma condição de inferioridade.

O Ocidente se diz disposto a aceitar um Islã “com face humana”, mas na realidade o que ele rejeita no Islã não é só a violência, mas também o seu absolutismo religioso. Para o Ocidente há uma licença para matar, não em nome de valores absolutos, mas em nome do relativismo moral. Por isso, o aborto é praticado de forma sistemática em todos os países ocidentais e nenhum dos chefes de Estado que marcharam em Paris contra o Terror jamais o condenou. Mas o que é o aborto senão a legalização do Terror, o Terror promovido, encorajado, justificado pelo Estado? Que direito têm os líderes ocidentais de marchar contra o Terror?

Em “La Repubblica” de 13 de janeiro de 2015, enquanto Adriano Sofri, ex-chefe de Lotta Continua [NdT: formação maoísta turinense, uma de cujas facções juntou-se às organizações terroristas], celebra a Europa que renasce sob a Bastilha, a filósofa pós-moderna Julia Kristeva, cara ao cardeal Ravasi, afirma que “a praça Iluminista salvou a Europa”, e que, “diante dos riscos que estavam correndo, liberdade, igualdade e fraternidade deixaram de ser conceitos abstratos, encarnando-se em milhões de pessoas”. Mas quem inventou o Terror senão a França republicana, que o utilizou para esmagar toda a oposição à Revolução Francesa? A ideologia e a prática do terrorismo apareceram pela primeira vez na História com a Revolução Francesa, especialmente a partir de 5 de setembro de 1793, quando o “Terror” foi colocado na ordem do dia pela Convenção e se tornou parte essencial do sistema revolucionário. O primeiro genocídio da História, o da Vendéia, foi perpetrado em nome dos ideais republicanos de liberdade, igualdade e fraternidade. O comunismo, que pretendeu completar o processo de secularização inaugurado pela Revolução Francesa, colocou em vigor a massificação do terror em escala planetária, provocando, em menos de 70 anos, mais de 200 milhões de mortes. E o que é o terrorismo islâmico senão uma contaminação da “filosofia do Alcorão” com a prática marxista-iluminista importada do Ocidente?

Marcher-contre-la-Terreur-Guilhotina

Desde a sua fundação, “Charlie Hebdo” é um jornal em que a sátira foi posta a serviço de uma filosofia de vida libertária, cujas raízes provêm do Iluminismo anticristão. O jornal satírico francês tornou-se famoso por suas caricaturas de Maomé, mas não devemos esquecer suas repugnantes caricaturas blasfemas publicadas em 2012 para reivindicar a união homossexual. Os editores de “Charlie Hebdo” podem ser considerados a expressão extrema mas coerente da cultura relativista difundida agora em todo o Ocidente, assim como os terroristas que os assassinaram podem ser considerados a expressão extrema mas coerente do ódio contra o Ocidente de todo o vasto mundo islâmico.

PRC_CrucifixoAqueles que afirmam a existência de uma Verdade absoluta e objetiva são equiparados pelos neo-Iluministas aos fundamentalistas islâmicos. Porém, é o relativismo que se equipara ao islamismo, porque ambos estão unidos pelo fanatismo. O fanatismo não é a afirmação da verdade, mas o desequilíbrio intelectual e emotivo que nasce do distanciamento da verdade. E só há uma verdade em que o mundo pode encontrar a paz, que é a tranquilidade da ordem: Jesus Cristo, Filho de Deus, em função do qual todas as coisas devem ser ordenadas no Céu e na Terra, a fim de que se realize a paz de Cristo no Reino de Cristo, apontada como o ideal de todo cristão pelo Papa Pio XI em sua encíclica Quas Primas de 11 de dezembro de 1925.

Não se pode combater o Islã em nome do Iluminismo, e menos ainda do relativismo. Só se lhe pode opor as leis natural e divina, negadas pela raiz tanto pelo relativismo quanto pelo Islã. Por isso levantemos ao alto aquele Crucifixo que o secularismo e o islamismo rejeitam e façamos dele uma bandeira de vida e de ação. “Nós — dizia São Paulo —pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (I Cor 1, 23). Poderíamos repetir: “Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os muçulmanos e loucura para os laicistas”.

Fonte: “Corrispondenza Romana”, Nº 1373, 14 de janeiro de 2015. 

Tradução de Hélio Dias Viana

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Roberto De Mattei

Roberto De Mattei

73 artigos

Escritor italiano, autor de numerosos livros, traduzidos em diversas línguas. Em 2008, foi agraciado pelo Papa com a comenda da Ordem de São Gregório Magno, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à Igreja. Professor de História Moderna e História do Cristianismo na Universidade Europeia de Roma, conferencista, escritor e jornalista, Roberto de Mattei é presidente da Fondazione Lepanto. Entre 2004-2011 foi vice-presidente do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália. Autor da primeira biografia de Plinio Corrêa de Oliveira, intitulada “O Cruzado do Século XX”. É também autor do best-seller “Concílio Vaticano II, uma história nunca escrita”.

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