Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
6 min — há 6 anos
Quase três semanas após o 2º turno, é hora boa de parar, escalar um outeiro e observar o panorama; a seguir descer e, com maior segurança, retomar a caminhada. Está menos carregado o ambiente, os negócios começam a melhorar. O Bradesco subiu a estimativa de crescimento do PIB em 2019 de 2,5% para 2,8%, o Itaú Unibanco de 2% para 2,5%. O rumo pressagia mais emprego e renda. De forma congruente, o povo anda mais esperançado com o próximo janeiro que quando entrou em 2018.
Pelas circunstâncias de momento teremos anos de recomposição institucional, com positivas e duradouras repercussões na economia, na educação, na vida de família. Combatidos os fatores de desagregação e de atrofia que nos emboscam e nos enroscam, a sociedade receberá seiva nova para ir adiante, florescer.
Quem fala em esperança, acena para probabilidades, considera potencialidades. Curto, inexiste a certeza. Motivos sem fim a impedem. Vou tratar apenas de uma razão, fundamental, silenciada, age intensamente nos corações. Santo Agostinho chamou-a as duas cidades: “Dois amores erigiram duas cidades, Babilônia e Jerusalém: aquela é o amor de si até ao desprezo de Deus; esta, o amor de Deus até ao desprezo de si”. Santo Inácio retratou a luta com a metáfora das duas bandeiras.
Tal luta tem conotação própria nos Tempos Modernos. Duas forças há séculos arrastam (ou atraem) a maior parte dos homens. Uma parte deles é embeiçado pelas seduções de uma vida sem peias na igualdade, imersa nas explosões do orgulho e da sensualidade. O horizonte utópico que os alicia são, tenham disso consciência ou não, comunidades ateias, libertárias e coletivistas (o comunismo total). Rios de tinta já correram sobre isso. E causaram, na história, rios de sangue. As realizações fracassaram, mas continua viva a tendência de fundo.
Na fímbria do horizonte oposto fulgura a atração austera da ordem, a saber, da vida virtuosa. Não alicia, não magnetiza, mas encanta e pode até arrebatar. Conduz à adesão à ordem temporal cristã, de modo outro, ao anseio da lei de Cristo reinando nos corações, nos lares, na sociedade em geral e no Estado. Se considerarmos que numa extremidade da linha fica um ideal e, na ponta oposta, o outro, em algum ponto do trajeto cada um de nós finca seus pés. Mais importante, movemo-nos em direção a um ou a outro polo. De passagem, convém notar, os polos em sua totalidade hoje cativam relativamente pouco os homens. Contudo, num ponto se apresenta diferente a situação: é enorme o fascínio da vida libertária. Vem destruindo costumes, abatendo princípios, modificando legislações, perpassa desde a esquerda mais extrema até a direita mais privatista em economia; agarra jovens, velhos e maduros.
Em 1959, Catolicismo nº 100, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira [foto ao lado] publicou o ensaio “Revolução e Contra-Revolução” — sei, a ortografia nova prescreve contrarrevolução, mas emprego agora a antiga por fidelidade ao título original. Depois, em vários idiomas, o trabalho se difundiu mundo afora.
O líder católico, autor do referido ensaio, fala também das duas cidades, vistas sob prisma próprio, a Revolução e a Contra-Revolução. Denuncia a Revolução, fenômeno nascido na aurora dos Tempos Modernos no Ocidente cristão. A ela se opõe a Contra-Revolução. Em relação a tal fato, divide os homens em cinco categorias. Os revolucionários, a saber, com certa simplificação, os que aderem ao comunismo total, ateu, igualitário, libertário (ou para lá caminham). Do lado contrário, os contra-revolucionários, partidários da ordem temporal cristã “fundamentalmente sacral, anti-igualitária e antiliberal”. No meio, três categorias: os revolucionários de pequena velocidade, os de velocidade lenta e os semicontra-revolucionários.
Assim os qualifica (pensem no Brasil de hoje):
“O que distingue o revolucionário que seguiu o ritmo da marcha rápida, de quem se vai paulatinamente tornando tal segundo o ritmo da marcha lenta, está em que, quando o processo revolucionário teve início no primeiro, encontrou resistências nulas, ou quase nulas. A virtude e a verdade viviam nessa alma de uma vida de superfície. […] Pelo contrário, quando esse processo se opera lentamente, é porque a fagulha da Revolução […] encontrou muita verdade ou muita virtude que se mantêm infensas à ação do espírito revolucionário. Uma alma em tal situação fica bipartida, e vive de dois princípios opostos, o da Revolução e o da Ordem. Da coexistência desses dois princípios, podem surgir situações bem diversas:
* a. O revolucionário de pequena velocidade: ele se deixa arrastar pela Revolução, à qual opõe apenas a resistência da inércia.
* b. O revolucionário de velocidade lenta, mas com ‘coágulos’ contra-revolucionários. Também ele se deixa arrastar pela Revolução. Mas em algum ponto concreto recusa-a. […] Trata-se de uma resistência […] mas que não remonta aos princípios, toda feita de hábitos e impressões. Resistência por isto mesmo sem maior alcance, que morrerá com o indivíduo, e que, se se der num grupo social, cedo ou tarde, pela violência ou pela persuasão, em uma geração ou algumas, a Revolução em seu curso inexorável desmantelará.
* c. O “semicontra-revolucionário”: diferencia-se do anterior apenas pelo fato de que nele o processo de “coagulação” foi mais enérgico, e remontou até a zona dos princípios básicos. […] Nele a reação contra a Revolução é mais pertinaz, mais viva. Constitui um obstáculo que não é só de inércia. […] Um excesso qualquer da Revolução pode determinar nele uma transformação cabal, uma cristalização de todas as tendências boas, numa atitude de firmeza inabalável”.
Por que trouxe à baila a classificação do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira? Como chave de interpretação, para ser pano de fundo de rápido bosquejo de aspectos da situação do Brasil. O antipetismo que determinou a eleição de Jair Bolsonaro abriga em seu bojo variadas correntes. Alguns exemplos em fieira. Ali se destaca o conservador em matéria de costumes, porém apático em relação à economia muito estatizada. Boa parte constituída de gente simples, representa enorme força eleitoral. Existe o liberal [privatista] em economia, libertário nos costumes, comum nos setores letrados. A ele em geral impacta pouco a ideologia do gênero, a generalização do aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a agenda LGBT. Temos o homem de hábitos anti-socialistas, mas que admite sociedade nivelada para seus netos ou bisnetos. São influentes setores organizados da burocracia estatal, que com certeza espernearão quando da aprovação das reformas que ora se anunciam. A lista é maior, muita gente ficou de fora.
No verso da moeda, um gigantesco contingente popular, de hábitos e até princípios conservadores, pouco instruído, votou em Fernando Haddad por temer a perda de apoios assistenciais, caso vencesse Bolsonaro. Com propostas e trabalho inteligente, pode mudar o voto.
Se a economia andar bem, a frente eleitoral que elegeu Bolsonaro tem condições de se manter sem fissuras destrutivas. Caso marche mal (e aqui pode influir muito a situação internacional, sobre a qual nada podemos), tal frente corre risco de desagregação rápida.
Paro por aqui. Quem avisa, amigo é. No Natal de 1971, 26 de dezembro, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou na “Folha de S. Paulo” artigo intitulado “Luz, o grande presente”. Dirigia-se a todos os autênticos homens de boa vontade para que vigiassem nas trevas da situação e, como os pastores, refletissem e esperassem. Na presente escuridão, espero que o artigo, bico de lamparina, possa para alguns leitores ser um presente (um pouco de luz) e assim facilite a subida em elevações para observar o panorama. Depois, passos para frente no rumo certo. Agir com desídia trará retrocessos, a perda do que foi conquistado com enorme esforço.
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