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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

Por que todas as ‘pessoas erradas’ estão apoiando a Ucrânia?


Em um país polarizado, quando um lado apoia entusiasticamente uma causa, a regra geral é que o outro tome a posição oposta. Assim, naturalmente, o fato de dois inimigos se encontrarem de repente na mesma trincheira nos leva a perguntar se há algo errado.

É o caso da Ucrânia. Os conservadores, que apoiam de todo o coração o país invadido, de repente se encontram lado a lado com estranhos companheiros. Comportando-se de forma atípica nesta crise, os liberais (esquerdistas) estão apoiando o lado certo — a Ucrânia injustamente atacada.

De fato, até grandes empresas “woke” que iluminam prédios com as cores do arco-íris e condenam o “nacionalismo” americano passam a exibir as cores nacionais da Ucrânia. Pacifistas verdes adeptos do ‘green new deal’ exigem que se envie à Ucrânia munições em massa com alto teor de carbono. Fanáticos pró vacinas acolhem de braços abertos milhões de refugiados não vacinados na Europa, e 100.000 nos EUA. Esquerdistas notórios como o bilionário George Soros, Sean Penn, Lady Gaga e a deputada Nancy Pelosi adotam a linha pró-Ucrânia.

Assim, os liberais, que discordam automaticamente dos conservadores em tudo, agora se juntam a eles na defesa desta justa causa. Não é de admirar que muitos conservadores se perguntem: “Por que todas as ‘pessoas erradas’ estão apoiando a Ucrânia?”

Uma unidade ilusória

Claro está que todo mundo deve simpatizar com a Ucrânia e ajudá-la na medida de suas possibilidades por tratar-se de uma nação injustamente atacada. A brutalidade da invasão entra pelos olhos dos americanos, incluindo a maior parte dos liberais. Imagens de crueldade selvagem entram em todos os lares pela Internet. A vista desta tragédia humanitária inspira na população o generoso desejo de aliviar tal sofrimento. Não há “pessoas erradas” incapazes de compartilhar tal compaixão.

No entanto, muitos liberais se arvoram em defensores entusiasmados da Ucrânia não apenas por ser atacada, mas para enquadrar o debate. Tragicamente, usam a crise da Ucrânia para fortalecer sua narrativa e forjar uma contra-narrativa pseudoconservadora. Neste caso, as “pessoas erradas” estão apoiando a causa certa pela razão errada. O conflito ucraniano torna-se uma ocasião de lutar contra tudo que é conservador.

Democracia Liberal x Regime Autocrático

A mídia liberal enquadrou a crise ucraniana como um conflito entre dois sistemas políticos: a democracia liberal e os regimes autocráticos. Esse enquadramento é repetido com tanta frequência que poucos o contestam.

No entanto, essas falsas alternativas, grosseiramente simplificadas, favorecem a narrativa liberal. Por um lado, a Ucrânia é descrita como representando valores liberais (embora este país, como todas as nações eslavas, preserve muitos costumes conservadores e religiosos talvez até mais do que a Rússia). A mídia liberal destaca o fato indiscutível de que as opiniões do presidente liberal da Ucrânia, Zelenskyy, sobre o aborto e o pecado homossexual irritem (e com razão) os conservadores em toda parte. No entanto, como se dá com o presidente Biden nos Estados Unidos, as opiniões pessoais de Zelensky não refletem a opinião pública ucraniana como um todo.

Apresentar a causa da Ucrânia como liberal reforça as muralhas decadentes do liberalismo em toda parte. Ela se torna uma bandeira em torno da qual valentes liberais podem despejar vastos recursos e impor sanções massivas enquanto procuram evitar uma guerra a todo custo. Resta saber se o zelo liberal continuará quando a situação se agravar.

Uma narrativa pseudo-conservadora

O conflito oferece também uma ocasião de associar (embora gratuitamente) valores conservadores ao governo rígido e autocrático de Putin. Proclama-se por toda parte os restos de valores tradicionais da Rússia como sendo modelos de conservadorismo. Assim, os conservadores são classificados junto a Putin, que de modo algum os representa. Procurando reforçar a narrativa, a mídia move céus e terra para indicar e criticar o punhado de figuras conservadoras que mostram simpatia por Vladimir Putin apesar de suas posições declaradamente pró-aborto e pró-socialismo.

Tais tentativas de associá-los com a Rússia se juntam a acusações de que os conservadores americanos estariam colocando em risco a democracia por sua oposição à agenda liberal. Ao associar a causa conservadora à tirania, os liberais procuram forçar os conservadores a defender posições que não são suas. E mais tarde transfeririam a ‘carapuça’ a todo e qualquer conservador.

Nesta manobra, os liberais ganham na ida e na volta. Ao apoiarem a justa causa dos ucranianos, eles se põem do lado vencedor da opinião pública e do lado certo de sua narrativa. E ao rotular todos os conservadores como fãs do totalitarismo de Putin, eles dividem a direita em facções nas quais nenhum conservador se sente à vontade, colocando todos na defensiva.

Rejeitando as falsas alternativas

A solução correta para este falso dilema posto pela esquerda é rejeitá-lo com desdém. Nem ucranianos nem americanos devem ser forçados a defender seja a democracia liberal ou a autocracia. Esta falsa escolha não corresponde à realidade de uma nação e de uma Igreja sitiadas. A esquerda muitas vezes apresenta ao público alternativas falsas para evitar as questões reais, geralmente morais. Os liberais evitam questões morais porque não tem argumento contra elas.

Assim, a guerra atual deve ser considerada independentemente da narrativa da esquerda. A Ucrânia é uma nação injustamente invadida por outra. Se o despótico Putin prevalecer, ele perturbará toda a ordem estabelecida após a Segunda Guerra Mundial. Defender a Ucrânia não significa apoiar a agenda liberal nem condenar uma posição conservadora falsamente rotulada como sendo pró-Putin. Ponto final.

A Ucrânia não deve tornar-se uma ferramenta a ser manipulada pela esquerda ou pela direita. Ela não é um coringa a ser empregado em fantasiosas teorias da conspiração ou narrativas maquiavélicas dos comentaristas da mídia liberal. O direito natural do sofrido povo ucraniano à autodefesa deve ser respeitado, bem como seu legítimo desejo de permanecer nação livre com uma Igreja Católica livre.

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John Horvat II

John Horvat II

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