Cruzada de orações pela Igreja no próximo Sinodo
24 min — há 5 anos — Atualizado em: 4/17/2020, 5:51:13 PM
O Brasil e a quase totalidade dos países atravessam a Semana Santa mais triste de sua história, em decorrência da ameaça de uma pandemia, mas acima de tudo pela privação das celebrações e graças inerentes a essa festividade, através da qual a Igreja vem rememorando ininterruptamente, desde o remoto ano de 389, a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vivemos um desses momentos que marcam a História e definem o futuro que recairá sobre as gerações que se sucederão.
A pandemia do Coronavírus, para além do seuaspecto médico, poderá ocasionar as maiores transformações que a humanidade enfrentounesses dois mil anos de Cristianismo.
Transformações que já estão sendooperadas sem que quase ninguém as analise com profundidade e apresente umavisão de conjunto capaz de alertar a opinião pública, e que vão sendo absorvidascom resignação diante de uma calamidade pública apresentada com proporçõesapocalípticas.
“Confisco”, “redistribuição derenda”, “novo modelo econômico”, “imposto sobre fortunas”, “ordenação daprodução para enfrentar a pandemia” etc., são temas cada vez mais comuns naimprensa. Ao mesmo tempo, espalham-se notícias, carregadas do antigo rancor da“luta de classes”, confrontando quarentenas em “mansões” e em “favelas”.
Dizer que o mundo “não será mais omesmo” se tornou uma nova “palavra de ordem” repetida em vários círculossociais. Um mundo mais “igualitário”, “ecológico”, “pós-industrial”.
Entretanto, esse “novo mundo”, segundo seus profetas, não consistiria numa correção dos erros do passado e num “Retorno à Ordem”1 baseado na Lei Natural e nos princípios de uma sociedade orgânica, mas sim num mundo utópico, seja o dos ecologistas e indigenistas mais radicais, ou aquele sonhado pelos corifeus de uma governança mundial, primeiro sanitária, depois ecológica e finalmente política ou até mesmo filosófica e religiosa.
Para debelar esse perigo e inspirado na obra Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo, publicada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 1966, o Instituto que se honra de levar seu nome apresenta ao público brasileiro esta primeira análise dos riscos que enfrentamos na crítica hora presente, esperando que ela sirva para alertar os espíritos generosos, mas ingênuos, que podem ser vítimas inadvertidas de uma vasta manipulação ideológica.
Tal análise será feita com base nos princípios da Doutrina Social da SantaIgreja, os quais agora mais do que nunca precisam ser relembrados, uma vez que sãosilenciados em tantas cátedras episcopais infectadas pelo vírus da Teologia daLibertação.
São esses princípios do ensino tradicional da Igreja Católica que neste momento de confusão e relativismo darão o norte necessário a uma humanidade que depositou toda sua confiança na técnica e na ciência modernas e que de repente se vê imersa na insegurança, confrontada com um futuro incerto e ameaçador.
Emnome do “bem comum”, a preocupação com a saúde física dos homens monopolizou adiscussão pública.
Contudo, o bem comum não se restringe ao sentido utilitarista e “laico” que foi tomando nas democracias modernas; seu conceito verdadeiro acarreta uma série de consequências particularmente válidas para a crise atual.
Do Compêndio da Doutrina Social da Igreja2:
“164 (…)Segundo uma primeira e vasta acepção, por bem comum se entende: «oconjunto de condições da vida social que permitem, tanto aos grupos, como acada um dos seus membros, atingir mais plena e facilmente a própria perfeição».(…) Assim como o agir moral do indivíduo se realiza em fazendo o bem,assim o agir social alcança a plenitude realizando o bem comum. O bem comumpode ser entendido como a dimensão social e comunitária do bem moral”.
E também:
“170O bem comum da sociedade não é um fim isolado em si mesmo; ele tem valorsomente em referência à obtenção dos fins últimos da pessoa e ao bem comumuniversal de toda a criação. Deus é o fim último de suas criaturas e pormotivo algum se pode privar o bem comum da sua dimensão transcendente, queexcede, mas também dá cumprimento à dimensão histórica. Esta perspectiva atingea sua plenitude em força da fé na Páscoa de Jesus, que oferece plena luz acercada realização do verdadeiro bem comum da humanidade. A nossa história — oesforço pessoal e coletivo de elevar a condição humana — começa e culmina emJesus: graças a Ele, por meio d’Ele e em vistad’Ele, toda a realidade, inclusa a sociedade humana, pode ser conduzida ao seuBem Sumo, à sua plena realização. Uma visão puramente histórica e materialistaacabaria por transformar o bem comum em simples bem-estar econômico,destituído de toda finalização transcendente ou bem da sua mais profunda razãode ser”.
Assim como separar a preocupação coma economia de outros aspectos da vida humana reduziria o homem à sua dimensãomeramente histórica e materialista, assimtambém a preocupação com a saúde física, se não for harmonizada com as demaisnecessidades transcendentes do homem e subordinadas ao bem moral, acabaria por negar o próprio “bem comum”.
É, portanto, uma grave inversão devalores e uma negação do verdadeiro “bem comum” fechar igrejas nesse momento,impedindo os fiéis de ter acesso aos sacramentos.
O ministério religioso é de evidenteutilidade pública. As igrejas devemficar abertas, o culto público deve prosseguir e os sacramentos devem continuara ser administrados, desde que sejam, naturalmente, respeitadas as normasprudenciais para evitar o contágio.
Emquaisquer circunstâncias, os sacerdotes devem ter pleno direito de circulação –análogo ao dos agentes da saúde ou da ordem pública –, para que possam atenderos fiéis, de modo especial os moribundos, nos hospitais ou nas residências.
Doponto de vista jurídico, em se tratando de uma atividade lícita e protegida explicitamentepela Constituição Federal, não pode o Poder Público impedir a sua realização namedida em que forem respeitadas as normas de saúde e de prudência. E, acima detudo, cabe à Igreja – e não ao Estado – ter a última palavra nessa matéria.
Sobreisso, pronunciou-se em recente artigo o Arcebispo Dom Carlo Maria Viganò, ex-Núncioem Washington: “Eu compreendo ecompartilho preocupações fundamentais de segurança e de proteção que asautoridades exigem pela saúde publica. Assim como eles têm o direito de adotaras medidas para as questões que afetem nosso corpo, assim as autoridades daigreja têm o direito e o dever de se preocupar da saúde das almas. Elas nãopodem negar aos fiéis o alimento espiritual que eles recebem na Eucaristia, semfalar do sacramento da confissão, da missa etc.”.
Orespeito à prática religiosa se torna tanto mais necessário quando se sabe queo sistema imunológico das pessoas, particularmente dos anciãos e dos portadoresde doenças graves, é enfraquecido pelo pânico, pela depressão psicológica, peloacabrunhamento. A privação da atenção pastoral religiosa não pode deixar de teruma repercussão deletéria na saúde pública. Aliás, o próprio Presidente daRepública, Jair Bolsonaro, reconheceu-o em recente decreto, ao considerar asMissas como uma atividade essencial.
Traemsua sagrada missão os pastores que não apenas se dobram sem protestar diante daviolação do direito natural e constitucional da liberdade de praticar areligião, mas que se adiantam às autoridades e aplicam as regras sanitárias demodo ainda mais rigoroso do que o próprio Poder Público indicou.
Asaúde é um dos principais elementos da vida coletiva. Mas não é um valorsupremo, nem um direito absoluto que se sobreponha ao bem moral ou que possa colocar em risco a existência e o futuro deuma nação.
Ainda segundo o Compêndio da Doutrina Social Católica3:
“169: Para assegurar o bem comum, o governo de cada País tem a tarefaespecífica de harmonizar com justiça os diversos interesses setoriais. A correta conciliação dos bens particulares degrupos e de indivíduos é uma das funções mais delicadas do poder público. Alémdisso, não se deve esquecer que, no Estado democrático — no qual as decisõessão geralmente tomadas pela maioria dos representantes da vontade popular —,aqueles que têm responsabilidade de governo estão obrigados a interpretar o bemcomum de seu país, não só segundo as orientações da maioria, mas também naperspectiva do bem efetivo de todos os membros da comunidade civil, inclusivedos que estão em posição de minoria.”
Nãobasta seguir a vontade da minoria ou mesmo da maioria. Cumpre levar em conta o bem comum do país.
Deve-se, portanto, procurar um equilíbrio entre as exigências para o combate à epidemia e as requeridas pela vida coletiva4, que não pode ser severamente ameaçada, inclusive em seus valores mais fundamentais, por decisões provocadas pelo pânico.
Decisõesque podem acarretar não somente mais mortes pelo vírus, mas também mortes efome resultantes de desastres sociais e econômicos imprevisíveis.
É,aliás, paradoxal, contemplar organismos internacionais, correntes ideológicas emidiáticas, ardorosos defensores do sacrifício de vítimas inocentes pelo abortoe pela eutanásia, se erguerem em tribunos apaixonados do direito à vida comovalor único. Sua hipocrisia revela que sua verdadeira motivação é a promoção deuma agenda ideológica.
Paraalguns, tal agenda consiste na utopia de uma Nova Ordem Mundial totalitária.Para outros, pelo contrário, numa dissolução da civilização atual e a caminhadapara a utópica vida tribal defendida pelos corifeus da Teologia da Libertação eda ecologia radical.
Nãocabe aos organismos internacionais, nem aos especialistas na saúde, nem àmídia, nem aos lobbies ideológicos, mas tão-só à autoridade pública determinaras medidas apropriadas para combater a epidemia e, simultaneamente, harmonizar interessesem conflito. Essa autoridade recebe deDeus o poder e as graças sobrenaturais para tomar suas decisões, as quais devemser obedecidas, salvo se contrariarem o bemmoral, que é o fundamento de toda a Lei Natural.
Ocombate ao Coronavírus, na medida em que tenha implicações sociais, políticas,econômicas e até religiosas (como o fechamento de Igrejas) não é assunto apenasde Saúde Pública. Seu impacto vai muito além da saúde física e imediata doscidadãos.
Emfunção disso, nas democracias modernas, nas quais há uma separação dos Poderes,o bem comum exige que a ordeminstitucional seja respeitada e que, portanto, sejam as autoridades do PoderExecutivo, nos seus respectivos níveis, que decidam quais as medidasapropriadas que devem ser tomadas.
Cabea essas autoridades traçar os cenários das consequências em cada setor – e não apenas sob o ponto devista da Saúde Pública –, a fim de poderem tomar a decisão que atenda aoconjunto da sociedade.
Constituigrave ameaça ao bem comum o PoderLegislativo ou o Poder Judiciário se arrogarem o direito de decidir em taismatérias, como tem ocorrido em alguns casos e não apenas no Brasil, extravasandode suas funções naturais, seja criando leis, seja controlando a legalidade dasmedidas.
Uma incursão do Poder Judiciário na esfera do Poder Executivo não apenas extrapola de suas funções, mas chega a ser paradoxal, pois tradicionalmente ele sempre foi um defensor das liberdades públicas diante da limitação imposta por outros Poderes do Estado. Agora, essa situação se inverte e temos decisões judiciais negando até mesmo o direito à expressão5 daqueles que são contrários a um “pensamento único” que vai sendo imposto ao resto da sociedade.
Outroparadoxo é o da esquerda brasileira. Aqueles mesmos que, em passado não tãodistante de nossa história, se erigiam em defensores das liberdades públicas edos direitos individuais, hoje são os promotores de medidas extremas decontrole da população e, mais ainda, são partidários de que tais medidas sejamaplicadas por tempo indefinido.
Algunschegam mesmo a defender a necessidade de mecanismos internacionais de controlecapazes de combater eficazmente situações como a do Coronavírus.
Enão é rara a menção ao suspeito e propalado sucesso do modelo chinês que,segundo seus defensores, teria combatido a propagação do vírus sem se importarcom as garantias individuais…
O isolamento compulsório em muitos países não é mais uma hipótese distante. Em função da pandemia, mais de 40% da população mundial já está confinada em suas casas6.
Em seu principal livro, Revolução e Contra-Revolução, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira afirma a necessária transitoriedade de um governo forte para enfrentar uma crise como esta.
Discorrendosobre o conceito de “ditadura”, ele escreveu: “Há circunstâncias que exigem, para a salus populi, uma suspensão provisória de todos os direitosindividuais, e o exercício mais amplo do poder público. A ditadura pode,portanto, ser legítima em certos casos.”
Todavia,para ser legítima, ele cita algumas características. Entre elas:
1– “Deve suspender os direitos, não parasubverter a Ordem, mas para a proteger. E por Ordem não entendemos apenas atranqüilidade material, mas a disposição das coisas segundo seu fim, e deacordo com a respectiva escala de valores”. (…)
2– “Por definição, esta suspensão deve serprovisória, e deve preparar as circunstâncias para que o mais cedo possível se volte à ordem e à normalidade. A ditadura, na medida emque é boa, vai fazendo cessar sua própria razão de ser. A intervenção do Poderpúblico nos vários setores da vida nacional deve fazer-se de maneira que, omais breve possível, cada setor possa viver com a necessária autonomia”.
Jáuma ditadura revolucionária, isto é, que tenha por objetivo descristianizar oOcidente: “…visa eternizar-se, viola osdireitos autênticos, e penetra em todas as esferas da sociedade para asaniquilar, desarticulando a vida de família, prejudicando as elites genuínas,subvertendo a hierarquia social, alimentando de utopias e de aspiraçõesdesordenadas a multidão, extinguindo a vida real dos grupos sociais esujeitando tudo ao Estado: em uma palavra, favorecendo a obra da Revolução.Exemplo típico de tal ditadura foi o hitlerismo. Por isto, a ditadura revolucionária é fundamentalmente anticatólica”.
O princípio que deve vigorar, portanto,na atual emergência, é o de que a extensão e a duração das restrições àsliberdades públicas e à vida normal sejam as menores possíveis, e não ocontrário.
Enquantoas autoridades públicas representam a cabeça do corpo social, desempenhando umpapel diretivo essencial, a vida em sociedade resulta da atividade e da energiadesenvolvidas por todas as células do corpo social.
Incumbenão apenas ao Estado, mas também à sociedade civil, contribuir no combate à pandemia.Um combate cujas atividades não podem ser simplesmente açambarcadas pelo poderpúblico sob o pretexto de emergência nacional.
Tantoa propriedade privada e a livre iniciativa, quanto os direitos dos pais e dassociedades intermediárias devem ser respeitados em toda a extensão possível, equando for necessário limitá-los, há que indenizá-los justa e oportunamente pelosdanos causados.
Aindado Compêndio da Doutrina Social da Igreja:
185. “A subsidiariedade está entre as mais constantes e característicasdiretrizes da doutrina social da Igreja, presente desde a primeira grandeencíclica social. É impossível promover a dignidade da pessoa sem que se cuideda família, dos grupos, das associações, das realidades territoriais locais, emoutras palavras, daquelas expressões agregativas de tipo econômico, social,cultural, desportivo, recreativo, profissional, político, às quais as pessoasdão vida espontaneamente e que lhes tornam possível um efetivo crescimentosocial. É este o âmbito da sociedade civil, entendida como o conjunto dasrelações entre indivíduos e entre sociedades intermédias, que se realizam deforma originária e graças à «subjetividade criativa do cidadão». A rede destasrelações inerva o tecido social e constitui a base de uma verdadeira comunidadede pessoas, tornando possível o reconhecimento de formas mais elevadas desociabilidade”.
Nestemomento de quarentena, não podemos nos esquecer dos médios e pequenosempresários, dos profissionais liberais, dos autônomos e de suas famílias, querepresentam ainda um resto de vida orgânica nas sociedades globalizadas em quevivemos. Eles serão duramente atingidos pela crise econômica que já está dando seusprimeiros sintomas.
Oque há de melhor no Brasil é seu povo generoso, laborioso e inovador.
Taiscaracterísticas – decorrentes dos valores moraise transcendentais com que nosaquinhoou bondosamente a Providência Divina – marcaram profundamente nosso paíse estão também correndo grave risco na atual crise.
Doponto de vista prático, o respeito a essa subsidiariedade é tanto maisnecessário quanto é notório que a iniciativa privada é muito mais rápida emreagir e flexível em aplicar os remédios do que o pesado e burocrático aparelhoestatal. Sua contribuição é, portanto, indispensável; não apenas para enfrentara epidemia, mas principalmente para os esforços de reconstrução nacional que seseguirão, uma vez que o País se verá confrontado involuntariamente com umadepressão mundial que poderá ser a maior dos últimos séculos.
Aepidemia do Coronavírus revelou a fragilidade do mundo globalizado einterconectado, baseado no canto de sereia de um mercantilismo que sacrifica os“circuitos curtos” de produção e consumo em favor de “circuitos longos” nãogarantidos ante as várias contingências da vida humana (desastres naturais,mudanças geopolíticas, etc.).
Arevelação dessa fragilidade – que patenteou a dependência de boa parte do mundoàs veleidades das autoridades da China comunista – deve levar a um esforço dereindustrialização do Brasil e a uma política de parcerias comerciais quetornem nossa economia menos dependente da China e mais orientada parasatisfazer as necessidades do consumo nacional.
Pelomesmo motivo, cumpre assegurar que os florões da nossa indústria, das nossasterras e das nossas riquezas nacionais, desvalorizadas pela depressão que virá,não caiam nas mãos de capitais estrangeiros duvidosos,especialmente de grandes companhias chinesas, todas elas controladas peloEstado e pelo Partido Comunista.
O Coronavírus nasceu na China. Agora, em uma enorme manobra publicitária, os chineses oferecem as máscaras para nos proteger do vírus. A imprensa já está chamando essa ação de “Diplomacia das Máscaras”7
Neste mundo em que a falsa noção de bem comum se sobrepõe ao seu conceitoverdadeiro, muitos governos estão dispostos a ignorar o comunismo chinês – inclusive seudesrespeito sistemático dos direitos individuais de sua população, reduzida aexercer trabalho escravo – parareceber ajuda neste momento de pandemia.
Trata-se de uma enorme quebra dasbarreiras ideológicas que se opera no mundo inteiro, sem que grande parte daspessoas o perceba.
Nesse contexto, não estranha que o presidente chinês tenha ligado até para o presidente Trump a fim de “oferecer ajuda”8.
A China tem sido apresentada nãosomente como um país modelar na contenção do vírus, ela também setornou conhecida por sua capacidade de controle social através de novastécnicas digitais de rastreamento, reconhecimento facial etc.
Sobre a China, aliás, não existemdados seguros. Tanto a imprensa quanto a internet são filtradas pelasautoridades chinesas, as mesmas a afirmarem que o país teria isolado oCoronavírus.
Há, contudo, algo divulgado amplamente pelo próprio Partido Comunista chinês e que é a sua capacidade de usar a tecnologia de ponta para identificar e rastrear as pessoas9.
Através da tecnologia de reconhecimento facial e dos dados dos aparelhos celulares – que indicam a localização de seus usuários –, as autoridades chinesas são capazes de localizar cada indivíduo, bem como de definir com quem ele teve contato.
Nada pareceria neste momento maisútil e sedutor, e mais contrário ao mesmo tempo às autênticas liberdades individuaispresentes em uma sociedade orgânica e no princípio de subsidiariedade.
Não estará em gestação um novomodelo de sociedade interconectada, globalizada, socializada em um Estado fortecada vez mais igualitário?
O Coronavírus é real e seu perigonão deve ser subestimado; mas não se pode, em função de um perigo para a saúde pública,em nome de um bem comum mal entendido,sacrificar valores, quebrar as barreiras ideológicas em relação ao comunismo,aceitar uma mudança de “paradigma” para um novo mundo que será uma antítese daCristandade.
Ademais, há outra ditadura emgestação. A ditadura do “pensamento único”, que busca silenciar aqueles para osquais o homem não é só corpo, a economia não diz respeito apenas ao dinheiro e overdadeiro bem comum não prescindedos valores morais.
Neste momento em que essas barreirasideológicas estão caindo por medo de um vírus, mais do que nunca importa relembraros princípios sociais da doutrina católica.
Em novembro de 1965 era publicado por Plinio Corrêa de Oliveira na revista Catolicismo seu estudo sobre o tema da Baldeação Ideológica Inadvertida e Dialogo.10
Nele, o ilustre pensador e lídercatólico descreve a manobra através da qual se pode levar inadvertidamente umapopulação inteira a mudar seu modo de ver uma determinada realidade.
Tratando do perigo representado naépoca pelo comunismo internacional, sem menosprezar o perigo nuclear, Plinio Corrêade Oliveira chamava a atenção para outros tipos de manobras, muito maisdiscretas e profundas.
Ao final do processo, o “paciente” teriasido mudado de posição.
A presente pressão que está sendofeita sobre a opinião pública, apresentando números assustadores de mortos eperseguindo qualquer opinião divergente, não seria uma maneira de mudar asociedade em que vivemos sob o pretexto de um assunto de saúde pública?
Não estaríamos assistindo a umagrande manobra de baldeação ideológica inadvertida, da qual também seríamos asvítimas?
Consideremos de momento o que, sob oexpressivo título “O confinamento: um remédio pior do que a doença?”, escreveuno dia 6 de abril no jornal parisiense LeFigaro o reputado editorialista Renaud Girard, especializado em questõesgeopolíticas:
“As mortes causadas pelo Covid-19 excederão cem mil pessoas. Isso acarretará o sofrimento de centenas de milhares de famílias, o que é obviamente muito triste. Mas é preciso que o bom senso prevaleça. Muito antes da aparição do Sars-CoV-2, as doenças pulmonares obstrutivas clássicas já estavam matando muito. Em 2016, segundo a OMS, elas interromperam três milhões de vidas. No entanto, esse ano a economia do planeta não parou.
“Os acidentes de trânsito mataram no ano passado mais de um milhão de pessoas em todo o mundo. Porém, não proibimos a circulação. Felizmente, o número de mortes nas estradas foi reduzido por meio de ações direcionadas (limites de velocidade, medidas penais contra o álcool no volante, airbags nos carros, consertos nas estradas, etc.). Contra o Covid-19 também devem ser utilizadas ações direcionadas (rastreamento em massa, isolamento e atendimento de pessoas infectadas, equipar os hospitais com respiradores etc.). Tudo isso enquanto se espera o desenvolvimento de uma vacina.
“Entretanto, a mortalidade mundial poderia aumentar muito, devido à desorganização do mundo causada por um confinamento geral prolongado. O remédio pode ser pior do que a doença. As recessões econômicas diminuem a expectativa de vida. (…)
“No Covid-19, geralmente é a reação exagerada do sistema imunológico que acaba por matar o paciente. Não reproduzamos esse erro da natureza na geopolítica! Vamos manter a calma e nos abster de medidas políticas radicais, que são perigosas para o futuro mediano de todo o nosso planeta!“11
As manifestações multitudinárias quenos últimos sete anos encheram avenidas, ruas e praças de nossas cidadesrepercutiram no mundo inteiro e contribuíram para colocar o Brasil no seudevido lugar, ou seja, torná-lo um ponto de referência.
Governos conservadores foram eleitosem vários países, mas em nenhum deles se viu tal afluxo de pessoas indo às ruascontra o socialismo, o comunismo e tantas outras consequências.
Os brados “Quero o meu Brasil de volta” e “Aminha bandeira jamais será vermelha” eram indicativos não apenas do desejode um governo conservador, mas também de uma reação profunda de um País cansadode ficar em silêncio enquanto o mundo político o ignorava.
É esse o Brasil que está em risco. Emrisco de uma desunião dos conservadores, em risco de uma baldeação ideológica inadvertida, o qual é muito mais grave que o representado pelo Coronavírus.
Neste momento histórico, não sãoapenas os brasileiros que olham para a sua Pátria ameaçada; olham-na também umaparte do mundo que vê com esperança a reação anticomunista que aqui foi tãoexplícita.
A maneira do Brasil reagir eenfrentar a crise desencadeada pelo Coronavírus terá um alcance ainda difícilde medir, mas certamente não ficará restrita às nossas fronteiras.
Cumpre na atual emergência elevar asvistas e considerar os acontecimentos a partir de uma perspectiva de longoalcance e de um patamar superior.
Sendo Deus onisciente e onipotente, seria absurdoimaginá-Lo alheio a essa pandemia que se estendeu ao mundo inteiro, ou preocupadotão-só em nos fortificar espiritualmente para enfrentarmos o perigo e a dor, enão como sendo capaz de mudar radicalmente o curso dos acontecimentos.
Emsua infinita Sabedoria, Deus permitiu que causas segundas desencadeassem apandemia. Não é descabido perguntar se em sua misteriosa intenção estariaapenas o desejo de provar a nossa virtude, ou se não estaria também, e principalmente,o desejo de nos corrigir dos nossos vícios e pecados, como um bom Pai que não querque seus filhos se percam eternamente.
Aolongo da História, todos os povos consideravam as pestes como advertências ou castigosdivinos e elevavam à sublime e divina Majestade o pungente cântico entoado naQuaresma: Parce, Domine, parce populo tuo quem redemisti, Christe, sanguinetuo ut non in aeternum irascaris nobis, “Perdoai, Senhor, o teu povo,redimido pelo sangue de Cristo; não estejais irado para sempre conosco”.
Privadosdos sacramentos e das belas procissões e cerimônias da Semana Santa, nós, brasileiros,desejaríamos elevar a Deus o grito lancinante de Nosso Senhor na sua agonia: “‘Eli,Eli, lammá sabactáni?” – “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt27, 46). Mas, diferentemente do Divino Redentor, em cujos lábios a queixatinha todo sentido, por ser Ele o Cordeiro sem mancha que Se revestiu dos nossospecados, dos nossos lábios a pergunta não consegue sair, simplesmente porquenossa índole nacional não o permite.
Nasúltimas décadas, entretanto, quantas legislações contrárias à Lei de Deus! Quantasblasfêmias públicas amparadas pelo Poder Judiciário e outras autoridades! Quantasvítimas inocentes sacrificadas pelo aborto! Quanta desagregação dos costumespela aceitação do “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, das uniões livres,do divórcio! Quanta corrupção das crianças pela ideologia de gênero! Quantaincitação à inveja, ao roubo e ao ódio de classe! Quanto materialismo e ateísmopráticos!… Acima de tudo, que imensa deserção dos Pastores que não orientaramdevidamente o seu rebanho!
Comoos habitantes de Nínive no Antigo Testamento, o que Deus como bom Pai quer denós não é a morte, mas o arrependimento e a conversão; não apenas individual,mas como Nação, para que possamos ser novamente e com toda autenticidade aTerra da Santa Cruz.
Essaconversão – alguns de cujos requisitos foram apontados acima – exigirá muitossacrifícios de todos com vista ao bem comum, mas seremos impotentes parafazê-los caso prescindamos da onipotência da graça divina e da poderosíssimaintercessão de Maria Santíssima, que permaneceu de pé junto à Cruz e que nessahora trágica de suprema fidelidade nos foi dada como Mãe.
Paradebelar eficazmente o Coronavírus não bastam as medidas prudenciais deisolamento social e de higiene. É preciso, acima de tudo, pedir a Deus socorro pormeio de Nossa Senhora, com sincero propósito de conversão. Esse pedido ganharáainda mais força e idoneidade se for feito pelas autoridades.
Assimagindo, o Brasil poderá atravessar a paixão que o aflige sem conhecer a morte,e ressurgir na Páscoa com a força triunfante de Cristo Ressuscitado, numahumanidade renovada conforme a promessa de Nossa Senhora em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coraçãotriunfará!”.
Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
10 de abril de 2020
Sexta-feira Santa, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo
Referências:
1. Esse é o título do best seller de John Horvat, vicepresidente da American Society for the Defense of Tradition, Family and Property, do qual já foram mais de 330 mil exemplares (v. detalhes em https://www.returntoorder.org/)
3. Idem Ibidem
4. “Conexos com os problemas sanitários existem também as questões da economia e da paz social, dado que a epidemia põe em perigo o funcionamento das cadeais produtivas e econômicas e o seu bloqueio, se prolongado no tempo, produzirá falências, desemprego, pobreza, descontentamento e conflito social” (Dom Gianpaolo Crepaldi, arcebispo de Trieste, “Coronavirus, l’oggi e il domani.Riflessioni su un’emergenza non solo sanitaria” – https://www.vanthuanobservatory.org/ita/coronavirus-loggi-e-il-domani-riflessioni-su-unemergenza-non-solo-sanitaria-arc-giampaolo-crepaldi/
5. https://www.conjur.com.br/2020-mar-30/direito-manifestacao-nao-sobrepoe-direito-saude-juiz
7. Em meio à pandemia, China faz diplomacia das máscaras: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/tatiana-prazeres/2020/03/em-meio-a-pandemia-china-faz-diplomacia-das-mascaras.shtml
8. Em ligação, Xi Jimping oferece ajuda a Trump: https://exame.abril.com.br/mundo/xi-jinping-promete-ajuda-aos-eua-em-conversa-com-trump-sobre-coronavirus/
10. https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Dialogo_integral.htm#.Xo4gN3Jv-Uk
11. https://www.lefigaro.fr/vox/monde/renaud-girard-le-confinement-remede-pire-que-le-mal-20200406
Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
2539 artigosO Instituto Plinio Corrêa de Oliveira é uma associação de direito privado, pessoa jurídica de fins não econômicos, nos termos do novo Código Civil. O IPCO foi fundado em 8 de dezembro de 2006 por um grupo de discípulos do saudoso líder católico brasileiro, por iniciativa do Eng° Adolpho Lindenberg, seu primo-irmão e um de seus primeiros seguidores, o qual assumiu a presidência da entidade.
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