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Plinio Corrêa de Oliveira
IPCO em Ação

“Save Ralph”: proteção dos animais ou manifesto nazista?


Circula pela internet um curta metragem intitulado “Save Ralph” lançado pela Humane Society Internacional, em 6 de abril p.p. Trata-se de um protesto contra a utilização de animais em testes de cosméticos em laboratórios.

O enredo do vídeo detalha a vida de um coelho utilizado como cobaia em um laboratório.O coelho é cego de um olho, parcialmente surdo e tem queimaduras por todo o corpo. Ironicamente, o coelho diz que não se preocupa necessariamente com a sua vida, “pois sente que vale a pena sacrificar seu corpo para ajudar os humanos. Em um laboratório, os amigos coelhos de Ralph imploram para que a equipe de produção os liberte de seus testes, antes que Ralph seja injetado com uma substância química desconhecida em seu único olho que funciona. Agora completamente cego, Ralph faz suas observações finais; sem os testes em animais, ele estaria em um campo ‘como um coelho normal’. Quando o vídeo termina, Ralph aponta preocupado para a câmera.”[i]

O curta metragem apela para o lado sentimental do ser humano. Ninguém quer fazer um coelho sofrer. Entretanto, devemos utilizar o nosso lado racional, interrogando-nos se é lícito utilizar animais para testes em laboratório.  Ou o que diz a doutrina católica a respeito desse assunto. É o que veremos a seguir.

Logo no início das Sagradas Escrituras, no Livro do Gênesis, está escrito que no sexto dia da criação Deus criou os animais e depois o HOMEM à sua imagem e semelhança: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra (Gen 1,26-28).

Há uma hierarquia posta por Deus no Universo, na qual os animais ocupam uma posição dentro da Criação. Vemo-lo claramente quando Jesus Cristo afirma: “Olhai os pássaros do céu, não semeiam nem colhem, nem guardam em celeiros, no entanto, o vosso Pai Celeste os alimenta” (Mt 6, 26). Assim, Deus provê para que não falte nada aos animais.

O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2416, diz: “Os animais são criaturas de Deus. Deus envolve-os na sua solicitude providencial. Pelo simples fato de existirem, eles O bendizem e Lhe dão glória. Por isso, os homens devem estimá-los. É de lembrar com que delicadeza os santos, como São Francisco de Assis ou São Filipe de Néri, tratavam os animais.”

No entanto, estimar os animais não significa colocá-los no mesmo nível do homem dentro da Criação. O Catecismo ensina que os animais estão sujeitos ao governo do homem, que é o rei da Criação. Isto significa que lhe é lícito utilizar-se dos animais para sua alimentação, para auxiliá-lo no trabalho, no lazer, na medicina, e até mesmo utilizar a sua pele para vestimentas etc. Isto também fica claro no parágrafo seguinte:

“§ 2417. Deus confiou os animais ao governo daquele que foi criado à Sua imagem. É, portanto, legítimo servimo-nos dos animais para a alimentação e para a confecção do vestuário. Podemos domesticá-los para que sirvam o homem nos seus trabalhos e lazeres. As experiências médicas e científicas em animais são práticas moralmente admissíveis desde que não ultrapassem os limites do razoável e contribuam para curar ou poupar vidas humanas.”

No parágrafo 2418, o mesmo Catecismo afirma que é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas”. 

Deve-se observar que esses artigos do Catecismo da Igreja Católica estão ligados às explicações do 7º Mandamento “Não roubarás”, ou seja, o animal é propriedade do homem e não ao 5º Mandamento que estipula “Não matarás”. Assim diz o parágrafo 2415: O sétimo mandamento manda respeitar a integridade da criação. Os animais, como as plantas e os seres inanimados, estão naturalmente destinados ao bem comum da humanidade passada, presente e futura.

 *     *      *

Com estas considerações não pretendemos fazer apologia da utilização de animais em testes de laboratórios. O ideal seria que a ciência descobrisse outro meio para tais testes. Concordamos, contudo, com o site português Aleteia, que afirma: “É preciso considerar o uso de animais nas pesquisas como necessário no estado atual da ciência, para ajustar-se ao imperativo moral de curar e prevenir doenças humanas, mas buscando formas de substituir e reduzir o número de animais e minimizar seu sofrimento.”[ii]

O paradoxo da defesa dos animais e o aborto

As críticas exacerbadas contra o uso de animais como cobaias partem, entretanto, de empresas que favorecem o aborto no mundo inteiro, como a canadense MAC Cosmetics e a americana Benefit Cosmetics.

O site ACI Digital publicou no dia 15 de março de 2019 a seguinte notícia:

“Duas conhecidas marcas de cosméticos anunciaram que farão uma parceria com a Planned Parenthood (PP) para lhe dar apoio financeiro durante o ano de 2019.

“Trata-se da empresa canadense MAC Cosmetics e da norte-americana Benefit Cosmetics, que receberam o agradecimento da Planned Parenthood através de uma mensagem publicada em sua conta do Twitter em 12 de março.

“A empresa MAC irá realizar uma doação de 500.000 dólares durante dois anos e destinará os lucros das vendas de sua linha de batom Viva Glam para Planned Parenthood, e assim “ajudar a ampliar seus programas de Chat/Text e seu novo bot de conversas sobre saúde sexual Roo”.

Empresas de cosméticos financiam o aborto

“Por outro lado, Benefit Cosmetics, através de seu programa Benefit “Bold is beautiful”, ajudará a multinacional a financiar os atendimentos em ‘saúde sexual e reprodutiva’ (que incluem o aborto e a anticoncepção) e seus programas de “educação sexual” em todos os Estados Unidos.

“Annie Ford Danielson, embaixadora da beleza na Benefit, disse ao site ‘Refinery29’ que não querem que as pessoas tenham vergonha de procurar a Planned Parenthood.

“Principalmente na indústria da beleza, que busca oferecer apoio sem importar o que esteja acontecendo com a pessoa. Queremos usar nossa influência e alcance para ajudar estas mulheres a eliminarem este estigma”, disse Danielson.”

Proposta nazista: experimentos em presidiários

Animais de laboratório fazendo saudação nazista a 
Hermann Göring por sua ordem de proibir a vivissecção. Caricatura de Kladderadatsch , um jornal satírico, setembro de 1933. Göring proibiu a vivissecção e disse que aqueles que “ainda pensam que podem continuar a tratar os animais como propriedade inanimada” seriam enviados para campos de concentração .

O que vemos hoje é uma inversão de valores onde os animais – e até mesmo as plantas – são mais valorizados do que os humanos. A apresentadora Xuxa, por exemplo, surpreendeu com a defesa de experimentos em presos, conforme noticiou o site Uol no dia 26 p.p.: “Xuxa Menegal, 58, causou polêmica nesta sexta-feira (26) ao defender em uma live da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro que remédios e vacinas sejam testados em presidiários. Segundo a apresentadora, assim ‘pelo menos eles serviriam para alguma coisa antes’“.

Cigano vítima das experiências médicas nazistas para transformar água marinha em água potável. Campo de concentração de Dachau, Alemanha, 1944.

A proposta de Xuxa, entretanto, não é novidade. O médico nazista Josef Mengele fez experimentos verdadeiramente macabros com prisioneiros judeus e ciganos. Os nazistas proibiram pesquisas médicas com animais, e Hermann Göring, fundador da terrível Gestapo, polícia secreta de Hitler, ameaçou “deportar para um campo de concentração” qualquer um que se atrevesse a desobedecer à lei. “Ele encarcerou um pescador por seis meses apenas porque este cortou a cabeça de um sapo – que seria utilizado como isca – quando o batráquio ainda estava vivo. A revista alemã de humor Simplicissimus publicou um desenho no qual um pelotão de sapos fazia a saudação nazista para Göring.”[iii]

O site Enciclopédia do Holocausto revela que “nos campos de concentração de Sachsenhausen, Dachau, Natzweiler, Buchenwald e Neuengamme, os cientistas testaram agentes imunizantes e soros para prevenir e tratar doenças contagiosas como a malária, o tifo, a tuberculose, a febre tifóide, a febre amarela e a hepatite infecciosa, inoculando os prisioneiros com tais doenças. O campo de Ravensbrueck foi o local de experiências cruéis com enxertos ósseos, e onde testaram a eficácia de um novo medicamento desenvolvido, a sulfa (sulfanilamida), às custas das vidas dos prisioneiros. Em Natzweiler e Sachsenhausen, os prisioneiros foram sujeitos aos perigosos gases fosgênio e mostarda, com o objetivo de testar possíveis antídotos”[iv]

O curta metragem Save Ralph está mais parecido com um manifesto nazista do que com a defesa dos animais. Só faltou ser mais explícito, como a apresentadora Xuxa ao propor que testes de vacinas e medicamentos sejam realizados em prisioneiros. Talvez esse seja o tema de seu próximo capítulo.


[i] https://pt.wikipedia.org/wiki/Save_Ralph

[ii] https://pt.aleteia.org/2014/01/06/testes-em-animais-a-igreja-e-a-favor-ou-contra/

[iii] https://ecologia-clima-aquecimento.blogspot.com/2018/05/as-raizes-anti-humanas-do-movimento_13.html

[iv] https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-medical-experiments

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Jurandir Dias

Jurandir Dias

126 artigos

(jornalista MTb 81299/SP) colabora voluntariamente com o site do IPCO.

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